CASE
Fey tem a capacitação de funcionários como base para o crescimento
A empresa, única brasileira a fazer parte da Global Fastener Alliance, investe muito em treinamentos, comunicação interna, cursos e bem estar dos colaboradores
Localizada no estado de Santa Catarina, com faturamento em torno de R$ 160 milhões por ano, prestes a completar 50 anos, o que acontecerá em 2016, a Fey é a única fabricante brasileira de fixadores a fazer parte da Global Fastener Alliance, uma rede global de indústrias independentes e especializadas em fixadores de alta qualidade, e que é composta por sete associadas entre Ásia, Europa, Américas do Norte e Sul. Juntas, elas compartilham tecnologia, marketing, empregam mais de cinco mil pessoas e vendem mais de US$ 1 bilhão de “fasteners around the world”.
Parte desses impressionantes números surgiram na cidade catarinense de Indaial, uma área pertencente ao município de Blumenau e que obteve sua autonomia como cidade em fevereiro de 1934, mais de meio século após a chegada dos primeiros imigrantes alemães. O nome, assim como o de muitos outros municípios brasileiros, tem origem na flora nacional, mais especificamente um tipo de palmeira muito comum na época, a Indaiá. Jovem, a cidade tem hoje mais de 50 mil habitantes e conta com cerca de 430 quilômetros quadrados de área, dos quais 33,5 mil m² são utilizados pela Fey para a produção de fixadores, prosperidade e muita história.
Embora esta matéria fale de uma empresa brasileira com raiz germânica, ao pesquisarmos o significado de Fey chegamos ao termo “visionário”, na língua inglesa. Levar a etimologia em conta, neste caso, faz todo sentido, afinal o fundador da empresa, Ricardo Fey, entendia que ele e seus dois filhos, Adolfo e Bertoldo, poderiam fazer muito mais do que atuarem na agricultura, sua atividade anterior. Em outras palavras, Ricardo desejava aos filhos algo mais rentável, relevante e menos sujeito às intempéries climáticas.
Em 1966, enquanto Adolfo, já formado em contabilidade, estava fazendo curso de Economia, e Bertoldo trabalhando no comércio, o pai decidiu vender seu patrimônio agrícola e utilizar os recursos obtidos para comprar uma fábrica de porcas usinadas, que estava fechada. A partir daí, com esse pequeno negócio, Ricardo passou a entender que fabricar porcas poderia ser uma atividade na qual ele e os filhos poderiam atuar em conjunto. Até então, Adolfo já havia tido passagens profissionais no setor bancário, no ramo industrial e de fundição, mas resolveu participar com a família na compra daquela pequena empresa.
Desde então, eles passaram a fazer porcas em polegadas (de 3/16” até 5/8”). Nada de métricas. Porém, Ricardo foi afastado após um derrame, não podendo mais participar ativamente da empresa, falecendo 30 anos depois. Restou aos filhos assumirem todas as atividades.
A empresa começou com apenas um funcionário, aumentou progressivamente o número de colaboradores até construir a primeira unidade industrial com 412 metros quadrados, em 1970. Os investimentos em busca do crescimento da Fey continuaram constantes. Em 1972 compraram, da National Machinery – EUA, a primeira prensa automática para conformação a frio de porcas. Contudo, era quase impossível produzir nela já que a matéria-prima era uma grande dificuldade para os irmãos, ao ponto de serem obrigados a importar aço do Japão.
Com a empresa progredindo, novas aquisições foram realizadas, como a compra de tornos revolver, vindos de São Paulo. Com isso, a produção atingiu a marca de quinze toneladas/mês. Dinâmica, a utilização da prensa elevou a produção de 3 peças por minuto para 120, além da enorme redução no desperdício de matéria prima. Aliás, essa foi uma luta à parte, na qual Adolfo usou de sua influência em uma empresa em que atuara para conseguir um fornecimento regular de aço, algo tão vital, proveniente da Belgo Mineira. Em 1975, a Fey mudou-se para uma nova unidade na rodovia BR 470, mais bem equipada, já com 4 prensas automáticas. Em 1980, a empresa adquiriu uma fábrica de ferramentas, revendendo-a em 1998, destinando o capital obtido para entrar, também, na produção de parafusos estampados, além de manter a produção de grampo de bola, não incluída no pacote vendido.
“Maior rentabilidade por faturamento dentre as empresas do ramo no sul do Brasil, com 22%, 25% após a Ebtida, sempre evitamos endividamentos altos e em poucos casos recorremos aos grandes financiamentos quando era nossa única alternativa. De qualquer forma, a regra sempre foi investir com recursos próprios. Primeiro a fábrica, depois os donos. Fábrica rica, dono rico”, explica Adolfo Fey, sobre a filosofia utilizada para administrar a empresa. Entre 2002 e 2003, com a produção de mais de mil toneladas/ mês, o espaço na fábrica estava no limite, então, Bertoldo e Adolfo, respectivamente, presidente e diretor administrativo financeiro, decidiram iniciar a construção da atual e belíssima planta – aliás, até parece que foi inaugurada ontem e não em 2006, onde o bem humorado Adolfo, ao lado de Edison Boetcher, diretor comercial, e de um dos seus filhos, Ricardo Fey Neto, gerente da Produção e Melhoria Contínua, disse rindo “ainda estamos devendo a festa de inauguração”. Antes mesmo da mudança para a nova unidade, o depósito, junto com o tratamento térmico, foram se instalando na casa nova devido ao espaço fadigado da planta antiga.
“Éramos considerados um fabricante para mercados de distribuição, embora sempre tenhamos trabalhado na direção de oferecer algo mais em nossos produtos. Até esta época os preços eram mais atraentes em linhas standard e com pouca presença de importações. Com o mercado mais aberto, procuramos setores mais sofisticados onde nossos valores agregados ao produto pudessem fazer a diferença. Desde então, nossa atuação no mercado automotivo, com montadoras, sistemistas, autopeças, máquinas, implementos agrícolas e rodoviários começaram a entrar em nossas rotinas, tendo como um dos pontos de partida para esta fase a chegada de Edison Boetcher”, disse Adolfo a respeito da mudança de foco ocorrida na mesma época da mudança de endereço. “Antes de 2006 haviam muitas visitas e contatos mas eram poucos os negócios resultantes. O desinteresse desse mercado logo foi percebido. Se faziam necessárias melhorias como as homologações ISO 9001, que já tínhamos, e a ISO/TS 16.949, ISO 14001, CQI-09, além de outros investimentos em qualidade. Assim, logo fomos homologados por empresas como Mercedes, Volvo e Scania”. Sobre a VDA 6.3, da Volkswagen, “ainda não estamos homologados, mas na primeira auditoria, dentre 100 pontos, obtivemos 80, e a auditoria final deverá ocorrer em agosto deste ano, onde certamente chegaremos lá”, concluiu Adolfo.
A inserção no mercado está distribuída em 30% no setor automotivo, 45% no setor de reposição e 25% entre os demais. Ela conta com uma capacidade produtiva de 2,4 mil toneladas/mês e uma produção de 1,7 toneladas/ mês. A empresa é composta por cerca de 500 colaboradores, possui um tratamento térmico com potencial de 1,7 mil kg/h, um tratamento de superfície com capacidade para mil kg/h e um amplo laboratório com DTT, máquinas de medição por coordenadas e outros sistemas.
Uma outra forma que a Fey encontrou para seguir investindo em qualidade e na busca pelo crescimento é o cuidado com a mão de obra. A empresa oferece cursos para seus funcionários, inclusive para prensistas, onde dispõe de uma prensa exclusiva para tal, e muito conservada, e conta com professor, material didático e carga horária adequada. Mas não para por aí, pois eles têm um jornal interno, no qual podemos encontrar informações sobre o nascimento de filhos de colaboradores, casamentos e outras atividades. Ali se noticia também cursos, encontros familiares, workshops, modalidades de lazer como paintball, voleibol e, numa terra de alemães e brasileiros, não poderia faltar o futebol.
Por enquanto, não existe interesse em abrir o capital e/ou internacionalizar a Fey, embora, o empresário confirme já terem sido assediados por fundos de investimentos e outras empresas que buscavam fazer composições. De qualquer forma, eles poderão buscar parcerias, mas em atividades complementares, não para fazer a mesma coisa. Quando perguntado como imagina o centenário da Fey, em 2066, Adolfo acredita que a 2ª geração, da qual fazem parte seus filhos e os filhos de seu irmão Bertoldo, ainda estarão na empresa e que é muito difícil imaginar sequer se a fixação mecânica ainda será similar aos dias atuais, com parafusos, porcas etc., ou seja, a empresa precisa continuar no caminho da inovação. Já ao ser questionado se entraria nesse ramo hoje, Adolfo demonstrou gostar muito do que faz, declarou-se otimista com o mercado, mas disse que os investimentos assustam, já que são altos, sobretudo em função das máquinas e demais equipamentos, quase todos importados, portanto muito caros.
O futuro da empresa? A perspectiva é dobrar a produção até 2020. Dentre os investimentos recentes estão uma prensa Sacma, para conformação a frio entre M6 e M8, uma prensa Hatebur, para conformação a quente, rosqueadeiras Chun Zu para porcas M8 a M16, modernização da linha de grampos, além da aquisição de um novo forno para mais mil kg/h. |