A importação de máquinas no Brasil, segundo o especialista J. B. Graef
Diretor da SouthWind fala sobre importação maquinária no Brasil
No final de 2009, o governo concedeu vantagens tarifárias para importações. O discurso do Ministério do Desenvolvimento (Mdic) é de favorecimento e aplicação de benefícios para o setor exportar do País em curto prazo. Contudo, algumas das seis medidas publicadas no Diário Oficial da União (DOU) apontam o contrário, no qual as importações ganham vantagens tarifárias por meio do regime conhecido como ex-tarifário. A Revista do Parafuso buscou a experiência do diretor comercial da SouthWind, João Batista Graef, para saber a sua opinião sobre a importação no Brasil. Graef atua desde a década de 1970 na fabricação de elementos de fixação e foi em 1995 que decidiu fundar a SouthWind para atender as carências do setor em relação à falta de uma assessoria completa no fornecimento de ferramentas e tecnologia de processos. Hoje, a empresa completa 15 anos, é representante de fabricantes internacionais de maquinário destinado à produção de parafusos e similares, além de dispor de uma linha própria de ferramentas, produzida em Brusque, SC, para o mesma finalidade.
Revista do Parafuso (RP): Qual a sua opinião sobre as vantagens tarifárias para importações concedidas pelo governo e as medidas publicadas no Diário Oficial da União? João Batista Graef (JG): O Brasil ainda precisa melhorar muito em relação às regras e aplicação de benefícios no comércio exterior. Um País não pode tratar da exportação separadamente das importações. Não conseguiremos ganhar competitividade na exportação de produtos manufaturados sem a modernização de nosso parque industrial. Desta forma, entendo que os regimes ex-tarifários devem ser ampliados e flexibilizados. Hoje, além da burocracia da renovação dos ex-tarifários, que perdem a validade a cada ano, o industrial brasileiro tem que comprovar que o produto que está sendo importado se enquadra totalmente no regime de redução de tarifa. As medidas de vantagens tributárias para os importados têm sim influencia na redução dos custos de fabricação dos nossos produtos a serem exportados. No caso específico da fixação, não podemos esquecer que existe a exportação indireta de parafusos, porcas e outros utilizados na montagem de bens produzidos no Brasil e exportados, que vão desde um eletrodoméstico ou brinquedo até um automóvel, trator ou caminhão.
(RP): Por que importar, se fabricamos os parafusos. Não podemos construir o maquinário no Brasil?
JG: Se já enfrentamos grandes dificuldades de custos tentando fabricar ferramentas no Brasil, imagine qual seria a situação da indústria de máquinas para este tipo de produção. Neste ponto, temos um baixo volume de investimento se comparado ao de outros países produtores de parafusos, o que eleva substancialmente o custo de um equipamento produzido no Brasil. As iniciativas de empresas brasileiras são quase inexpressivas. Todos os grandes produtores no mundo exportam um percentual expressivo de seus volumes, chegando às vezes a 100%. Com exceção da China, onde algumas empresas, por motivos óbvios, fornecem exclusivamente no mercado interno, nos demais países a indústria depende muito da exportação e, neste caso, um equipamento produzido no Brasil seria muito difícil de ser exportado.
(RP): O sistema de incentivo para modernização industrial no Brasil nesse instante é suficiente ou não? JG: É claro que não. Não pode haver uma carga tributária tão alta em se tratando de equipamentos que compõe o ativo fixo, produtivo das empresas. Mesmo as peças sem similar nacional beneficiadas por regimes e redução do imposto de importação, ainda recolhem uma infinidade de outros tributos federais e estaduais, além de várias outras taxas e contribuições que encarecem substancialmente os custos dos produtos importados no Brasil. Até na Argentina existem condições melhores de importação com uma menor carga tributária.
Visita em fabricantes de máquinas e equipamentos para fixação, em taiwan, patrocinada pelo Taitra, com apoio da SouthWind
(RP): Se fizesse parte de algum órgão governamental, que tipo de medida adotaria? E que tipo de ações, independente de governos, pode movimentar o setor? JG: Em primeiro lugar, reduziria ao máximo possível a carga tributária dos setores estratégicos onde o Brasil é ou pode tornar-se um exportador. Em segundo lugar, eliminaria a carga tributária indireta e em cascata que encarecem nossos produtos exportados, notadamente os manufaturados. As entidades de classe como o Sinpa (Sindicato das Indústrias de Parafusos) e as federações das indústrias desempenham um papel fundamental em fazer o governo entender as necessidades e demandas do setor industrial. Quanto ao tipo de ações, vale a iniciativa de uma criteriosa e cuidadosa prospecção de fornecedores no exterior, em ações a serem desenvolvidas pelas empresas de fixadores e representantes brasileiros.
(RP): Como o senhor vê o futuro do mercado nacional para o fornecimento de máquinas? JG: Na SouthWind estamos prevendo um forte crescimento do mercado para os próximos anos, pois além da necessidade de aumento da capacidade produtiva, muitas empresas já começam a enxergar a necessidade de substituir maquinários velhos, lentos e de tecnologia ultrapassada. Além disso, a elevação dos custos de fabricação nos países asiáticos, notadamente Taiwan e China, começam a viabilizar a fabricação de determinadas linhas de produtos no Brasil. Notamos que muitos equipamentos que havíamos deixado de fornecer porque o produto vinha sendo importado pronto pelos clientes, voltaram a ser consultados e comprados pelas empresas nacionais.
(RP): Em relação ao setor de elementos de fixação, qual a sua avaliação para o Brasil?
JG: Este setor atingiu um nível tecnológico que podemos comparar, sem medo de errar, com o de qualquer país desenvolvido e, em muitos casos, o fabricante brasileiro é referência internacional em determinados processos de manufatura ou linha de produtos. Lamentavelmente, a indústria nacional de elementos de fixação luta contra grandes dificuldades que vão desde a pesada carga tributária e encargos trabalhistas de nosso país, custos de matéria-prima muito superiores aos níveis internacionais, até uma escala de produção que quase nunca consegue absorver o chamado “Custo Brasil”. A importação destes produtos piora ainda esta situação, pois nos atuais patamares do câmbio a concorrência com os importados chega a ser quase que desleal. Por esta razão, muitas empresas passaram a importar, deixando de produzir determinadas linhas como a standard, dedicando-se a produtos especiais de maior valor agregado, aumentando assim a concorrência nestas linhas.
(RP): E qual a sua análise sobre a competitividade dos produtores de peças de fixação no Brasil?
JG: A falta de uma melhor segmentação das linhas produzidas por cada empresa compromete grandemente os custos, reduzindo de forma importante a competitividade brasileira. Em minha opinião, um bom exemplo de uma segmentação inteligente é Taiwan, onde existem mais de 2 mil fábricas de fixadores, sendo 700 delas filiadas ao TIFI (Taiwan Industrial Fastener Institute), uma entidade semelhante ao nosso Sinpa. Mesmo com a China vendendo em preços muito mais baixos, a indústria de Taiwan, que depende quase que 100% da exportação, conseguiu por meio de umaestratégia inteligente de busca de nichos de mercado, segmentação adequada das linhas de fabricação. Graças também a uma baixa carga tributária, manteve seus volumes e sua rentabilidade, ao contrário dos EUA que teve sua indústria de parafusos standard quase que extinta, mesmo com o maior mercado interno do planeta.
(RP): Fale sobre a missão comercial à China, onde esteve envolvido junto com o Taitra. JG: O Taitra é uma organização sem fins lucrativos destinada a promover os negócios de empresas de Taiwan no exterior, é basicamente um órgão de fomento à exportação. A SouthWind negociou com o Taitra a realização de uma missão comercial para nossos clientes, com visitação em fábricas de máquinas e equipamentos para fixação, além de rodadas de negócios entre fornecedores e produtores brasileiros. O Taitra conta com o patrocínio do governo de Taiwan e de diversas entidades de classe. Possui cerca de 50 escritórios comerciais ao redor do mundo, com mais de 600 pessoas trabalhando unicamente no sentido de promover as exportações das empresas de Taiwan para o mundo.
(RP): Em alusão a Peter Drucker (economista, 1909-2005), se estivesse de fora desse negócio entraria nele hoje?
JG: Sim, sem qualquer sombra de dúvida. Nosso ano de 2009 foi surpreendentemente o melhor em vendas de nossa história. Acreditamos que 2010 será ainda melhor, pois temos muitos projetos que estão em andamento e terão maturação este ano. Como em tudo na vida, o setor de parafusos, porcas e similares é uma paixão e você não consegue resultados positivos se não for apaixonado pelo que faz.