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21ª Edição do Congresso Brasileiro do Aço
Empresários de toda a cadeia de empresários do aço visitaram o 21º Congresso Brasileiro do Aço. Além da ExpoAço e da Vila do Aço, o evento realizou importantes debates sobre os últimos acontecimentos do setor e, com base nestas informações, traçaram-se novas perspectivas para o futuro.
A 21ª edição do Congresso Brasileiro do Aço, aconteceu entre os dias 14 e 16 de abril, no Transamérica Expo Center, em São Paulo, SP. Foram três dias de intensos debates, com palestrantes nacionais e internacionais, que tiveram o objetivo de traçar o panorama da indústria do aço no Brasil e no mundo. O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, abriu a ExpoAço 2010 – feira de negócios que aconteceu juntamente com o Congresso, organizado pelo Instituto Aço Brasil (IABr). O presidente também visitou a Vila do Aço, espaço de 1.400 m² dedicado a exposição das Empresários de toda a cadeia do aço visitaram o 21º Congresso soluções em aço na construção civil, como casas, prédios, passarelas etc (tudo em tamanho real).
Além do presidente Lula, a cerimônia de abertura contou com a presença dos executivos do IABr: Marco Polo de Mello Lopes, que assumiu o cargo de presidente executivo; Flávio Azevedo, que adquiriu uma vaga no Conselho; André B. Gerdau Johannpeter (Gerdau) e Albano Chagas Vieira (Votorantim), que assumem respectivamente a presidência e vice-presidência do Conselho Diretor do IABr. A solenidade de posse ocorreu juntamente ao evento.
As demais autoridades foram: o ministro das Cidades, Márcio Fortes de Almeida; o governador do Estado de São Paulo, Alberto Goldman; o prefeito da cidade de São Paulo, Gilberto Kassab; a governadora do Estado do Pará, Ana Júlia de Vasconcelos Carepa; o senador Aloizio Mercadante; o deputado Leonardo Quintão; o secretário de Geologia e Mineração do ministério de Minas e Energias, Cláudio Scliar. No discurso de abertura, Flávio Azevedo afirmou que a recuperação do setor está acontecendo rapidamente e que os momentos de crise serviram para serem tiradas lições. “A indústria está preparada para atender as futuras demandas”, afirmou.
O Instituto Aço Brasil divulgou os números do primeiro trimestre de 2010. A produção brasileira de aço bruto neste período foi de 8,0 milhões de toneladas, representando alta de 59,3% em relação ao mesmo período do ano passado, e queda de 1,1% quando comparada com o trimestre imediatamente anterior. O consumo aparente nacional de produtos siderúrgicos em março de 2010 foi de 2,4 milhões de toneladas, no total de 6,3 milhões de toneladas no primeiro trimestre deste ano. Esses valores representaram elevação de 77,6% e 73,0%, respectivamente, em relação a igual período do ano anterior.
Os bons resultados do primeiro trimestre confirmaram a visão otimista da indústria brasileira do aço, ainda em recuperação depois da crise econômica internacional. A previsão do IABr de produção para este ano é de 33,2 milhões de toneladas de aço, 25,1% a mais do que no ano passado. As previsões relativas às vendas, cujos resultados foram fortemente impactados pela crise de 2008, são de aumento de 26,2%.
Três dias de intensas atividades
Aproximadamente 800 congressistas assistiram aos debates sobre os acontecimentos no pós-crise, das perspectivas para o setor e dos desafios para o futuro. O evento atraiu cerca de 2.500 visitantes, sendo que a ExpoAço, reuniu em um espaço de 3 mil m², 52 empresas nacionais e internacionais (como Alemanha, Argentina, Chile, França, Índia e Suíça) produtoras de aço, mineradoras, fornecedoras de serviços e inovações tecnológicas para a cadeia produtiva do aço, de diversos países.
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Da direita para a esquerda: André Gerdau, Flávio Azevedo e Marco Polo de Mello Lopes, que assumiram, respectivamente, a presidência do Instituto Aço Brasil, um assento no Conselho e a presidência executiva |
Maílson da Nóbrega, economista e ex-ministro da Fazenda, participou do painel economia Mundial / Desafios do Crescimento para o Brasil |
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Jorge Gerdau Johannpeter, coordenador geral da Ação Empresarial e conselheiro do Instituto Aço Brasil |
Armando Monteiro, presidente do CNI, debateu no painel Economia Mundial / Desafios do Crescimento para o Brasil |
O encerramento do Congresso foi conduzido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele afi rmou que os efeitos da crise mundial para a indústria do aço já estão se dissipando, principalmente, devido à forte perspectiva de consumo do mercado interno. Mantega comentou também o aumento do preço do minério de ferro e afirmou que não vale a pena especular se esta elevação influenciará os índices da inflação’. “Temos que avaliar o peso do metal neste custo na linha branca e na indústria automotiva. Manter o controle inflacionário é uma questão de honra para o Brasil”, disse.
Debates
Dentre alguns assuntos discutidos durante o Congresso Brasileiro do Aço, a Revista do Parafuso selecionou dois temas, que vão ao encontro dos interesses de nossos assinantes: Painel Economia Mundial / Desafios do Crescimento para o Brasil O professor de política econômica internacional de Universidade de Harvard, Dani Rodrik, abriu o painel Economia Mundial / Desafios do Crescimento para o Brasil.
Na apresentação, Rodrik traçou um panorama positivo para a indústria do aço nacional. Ele afirmou que, ao contrário de alguns países, o Brasil não dependerá do mercado externo para expandir sua produção. De acordo com o professor, o País tem condições ainda de triplicar o consumo interno per capita, que atualmente é de aproximadamente 200 kg, ante aos 600 kg, estabelecidos por Rodrik, como o máximo possível. Nesta avaliação, a indústria nacional de aço é um bom exemplo na absorção e criação de tecnologia em benefício do desenvolvimento.
Globalização: o ritmo da caminhada do Brasil e de outros países emergentes em direção à saída da crise econômica mundial é mais acelerado do que nas economias mais adiantadas, segundo o professor. Para ele, os Estados Unidos e a Europa dificilmente voltarão aos níveis de produção anteriores a crise, em um panorama recente. A globalização tem acontecido de uma forma mais lenta, favorecendo os mercados domésticos. Para Rodrik o ativismo governamental na criação de políticas econômicas será uma necessidade pós-crise e já tem se tornado uma tendência mundial.
Ao comparar as linhas de crescimento do Brasil ao longo das décadas, o professor concluiu que o País possuía um desempenho melhor em um cenário econômico menos globalizado, o que ocorria antes dos anos 80. “A partir de 1982, quando estourou a crise da dívida, o Brasil teve a década perdida, voltando a crescer somente após 1990”. Para ele, o ponto chave que diferencia o crescimento vertiginoso da economia do leste da Ásia, com o mais modesto crescimento da América Latina é a ausência de uma política construtivista, ao invés de um planejamento baseado principalmente no mercado financeiro
Mais assunto
Delfim Netto, economista e ex-ministro da Fazenda; Jorge Gerdau Johannpeter, Maílson da Nóbrega, economista e ex-ministro da Fazenda; e Armando Monteiro, presidente da CNI, com mediação da jornalista Míriam Leitão, também participaram do painel Economia Mundial / Desafios do Crescimento para o Brasil. O debate teve como base a apresentação do professor Dani Rodrik. Delfim Neto destacou que a maior divergência do Brasil em relação à China é o setor público brasileiro, que nunca se ajustou à nova realidade, e apontou alguns tópicos essenciais para o desenvolvimento econômico nacional, como a taxa de câmbio competitiva e estável, a taxa real de juros parecida com a dos competidores e um Estado amigável com relação ao setor privado. “Crescer 5% é perfeitamente possível. Não precisamos mais do que isso e nem imitar a China”, afirmou ele. A conclusão de Rodrik de que os governos têm que ouvir mais o setor privado, foi a base da fala de Johannpeter. Ele salientou que, para o setor siderometalúrgico, dependente do comércio global, a crise mundial ainda não acabou. “O País está em festa, por isso, não percebe a realidade. Se queremos ser competitivos mundialmente, é preciso ter uma visão macro, estratégica, desenvolver competência administrativa na área governamental, analisar os competidores e, principalmente, atingirmos a produtividade internacional, resolvendo o problema da educação e da capacitação”, disse ele.
Já Nóbrega, enfatizou os pontos fortes do Brasil dentro do cenário mundial: sistema financeiro sólido, estabilidade macro-econômica e menor vulnerabilidade a crises externas. Na comparação com Coréia e China, o ex-ministro alertou que “o Brasil não deve buscar o desenvolvimento com base nesses países, pois não temos as mesmas condições deles. Não possuímos a política industrial coreana, nem a política cambial chinesa”, enfatizou. Para ele, o objetivo agora tem que ser o aumento da produtividade, com reformas essenciais, atraindo capitais privados para a infra-estrutura e melhorando a educação. “O Brasil tem um longo caminho, mas sob o manto das instituições e da capacidade empresarial, não há dúvida de que o País tem uma enorme possibilidade de aproveitar o cenário mundial pós-crise”. A importância da competitividade no mercado global como algo determinante para o desempenho do Brasil nos próximos anos também foi destacada por Monteiro, que acredita ser fundamental para isso, a união entre o setor governamental e o privado. “Temos que lidar simultaneamente com duas agendas para aumentar a produtividade. Uma é a questão do sistema tributário, da infra-estrutura e da logística, e outra é a do desenvolvimento de competência, investindo na educação e na inovação”, afirmou.
China: a grande preocupação
Um dos temas discutidos teve como foco os impactos da China nas tendências da siderurgia mundial. O diretor geral do WorldSteel Association, Ian Christmas, o professor especializado em economia chinesa da University of Califórnia, Barry Naughton, o diretor da Brookings-Tsinghua Center, Geng Xiao, e o diretor da Accenture, John Lichtenstein apresentaram dados que permitem ver o crescimento do país asiático no setor e compará-lo ao brasileiro. Christmas destacou a liderança da indústria de aço do Brasil em duas áreas: segurança no trabalho e adoção de tecnologias de sequestro de carbono. Com relação a China, prevê que “nos próximos anos, haverá mudanças estruturais importantes e diversas empresas surgirão no mercado. Entretanto, o país não chegará a ser, a curto prazo, um exportador de aço importante. É mais provável que eles sejam investidores e parceiros na Ásia e na África”.
Naughton, por sua vez, acredita que o crescimento exagerado da economia chinesa criou uma “bolha” dentro de uma estratégia desequilibrada e que há motivos para preocupação. “Vejo três principais problemas gerais na China, que impedem um crescimento sustentável a médio e longo prazo: estagnação da reforma institucional, desequilíbrio doméstico e pressão para a valorização da moeda”.
Já Xiao afirmou que o modelo adotado pelo governo da China tem se mostrado efi ciente e apontou os segredos do auto-crescimento chinês. “A estabilidade política e a competência do governo foi fundamental para esse crescimento, assim como a privatização de 80% das empresas, principalmente, as de médio e pequeno porte, e a abertura do mercado em diversos setores (exceto o do aço, em que o governo detém 78% das indústrias, e o da comunicação, por exemplo)”. Ele salientou ainda, que o modelo chinês de crescimento depende muito do aço utilizado na urbanização das cidades, sendo na construção de estradas ou em arranha-céus, ou usados para a moradia da população de baixa renda.
Dados comparativos entre Brasil e China foram a base do discurso de Lichtenstein, que destacou a ambição chinesa em ser líder do mercado de aço e de tornar suas empresas globais, com investimentos pesados em tecnologia, através de pesquisa e desenvolvimento. “As indústrias aqui são estáveis, o mercado doméstico tende a crescer, mas a tributação ainda é uma enorme barreira para os investimentos estrangeiros, assim como a falta de recursos destinados à educação”.
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