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Entrevista
30/08/2008 10h01

Mão-de-obra: presente e futuro

As empresa brasileiras têm enfrentado um problema muito sério para encontrar mão-de-obra qualificada. No Brasil, as instituições não capacitam profissionais qu desempenhem a função com pleno domínio de todas as responsabilidades pertinentes ao cargo, seja na teoria ou na prática

 
Existem diversas faculdades e cursos profissionalizantes espalhados pelo Brasil, que oferecem ao cidadão a chance de complementar ou ampliar o currículo profissional e obter maiores condições para sobreviver no concorrido mercado nacional. No entanto, disputar uma vaga para uma universidade já virou algo corriqueiro. Qualquer indivíduo com condições de pagar a mensalidade, certamente vai esquentar um dos milhares de assentos disponíveis, até o cumprimento da carga horária prevista no curso escolhido, e receber o tão sonhado diploma.
 
Mas dentro dessas escolas, o que de fato acontece? Por que as empresas não conseguem encontrar profissionais competentes, que estejam à altura de ocupar determinada vaga que está em aberto há meses? É muito comum o empreendedor ter que ensinar fundamentos básicos ao funcionário recém-contratado, quando na verdade, o empregado diplomado deveria ter, no mínimo, os conhecimentos básicos da área que ele mesmo escolheu. Uma vergonha, mas é realidade! Mas de quem é culpa? Da instituição? Do aluno? O diretor comercial da Presstécnica, Hans Rudolf Kittler, levantou essa questão e conversou a respeito deste assunto com a reportagem da Revista do Parafuso.
 
Revista do Parafuso (RP): Em sua opinião, qual a atual realidade do mercado de trabalho?
Hans Kittler (HK): O Brasil está bloqueado por inexistência de formação de mão-de obra qualificada. Faltam profissionais competentes em todas as atividades especializadas. No nosso ramo, o assunto é ainda mais grave, pois não existem escolas e cursos de competência. Atualmente, em virtude da correria da vida moderna, todo mundo se forma para ganhar dinheiro, e não para adquirir conhecimentos e, a estabilidade emocional do sujeito é catastrófica. De 200 entrevistas com engenheiros formados que eu faço, consigo selecionar apenas dois, para, ainda, nós treinarmos. Empresários não podem fazer tudo na cadeia produtiva, e por isso, estamos alertando essa necessidade
 
RP: O que você está fazendo para tentar reverter esse quadro?
HK: Elaboramos um material que trata dessa necessidade para difundi-lo nas mãos das entidades responsáveis. Vamos entregá-lo para quem já deveria ter resolvido o assunto. Queremos chamar a atenção do SENAI e dos próprios empresários para exigirem providências das pessoas ligadas à educação, que hoje no Brasil, está totalmente abandonada. Existe a falsa idéia que educação é só informação, mas não, é teoria e prática.  preciso conscientizar de que é preciso mudar urgentemente, e a grande dificuldade é como será feita essa transformação.
 
RP: Mas de quem é culpa: da instituição ou do aluno?
HK: De ambos. E vou te dar um exemplo simples: existem várias faculdades de Comércio Exterior, e o curioso, é que ninguém sai de lá falando os principais idiomas, e nem é capaz de exercer múltiplas habilidades, como importar, exportar e prospectar. Esse recém-formado, na verdade, não está formado, e sim, informado. E o que o mercado pode fazer com ele? Nada! Não haverá espaço, porque ele mesmo se iludiu e não exigiu da instituição. O público em geral, não cobra das entidades a sua formação. Paga-se a mensalidade, para sentar numa cadeira e não levar nenhum conteúdo completo para casa. Quando se está no mercado, é preciso resolver problemas e isso não acontece atualmente. As escolas brasileiras estão paradas no século 19, até hoje são aplicados os conceitos antigos, ou seja, ninguém evoluiu em nada. As instituições precisam ir a sociedade e fazer pesquisas de formação de mão-de-obra e se estruturar melhor para atender o mercado, e não apenas para ganhar dinheiro.
 
 
RP: Quais os primeiros passos que a instituição deve ter para começar a corrigir esse problema?
HK: Em primeiro lugar, as instituições precisam criar mecanismos de avaliação para evitar a evasão escolar. Antes de abrir um determinado curso, é preciso saber se há procura por ele. E de dou um exemplo: a mecatrônica tem quase 90% de evasão profissional, o indivíduo acha o nome bonito, mas nem sequer sabe do que se trata. Além disso, pensam que a mecatrônica vai dar emprego qualificado para alguém. Os cursos são escolhidos pelo nome (se está na moda) ou pela facilidade de ingresso. Mas a pessoa apenas faz o curso e não se profissionaliza, e isso para o País é uma perda total de mão-de-obra. Ocupou-se o banco escolar, mas não praticou as ações pertinentes.
 
RP: Existe alguma saída mais rigorosa para os profissionais adquirirem mais interesse pela sua graduação?
HK: É preciso fazer o produto do começo ao fim e se responsabilizar pelos resultados. O profissional de formação média na Europa, responde civil e criminalmente pela sua atividade. Essa é uma única forma de todo mundo ter que se preparar melhor. Outro grande problema, é que a maioria muda de função só para aproveitar vantagens econômicas momentâneas do mercado, sem se preocupar com sua formação profissional e sem considerar suas reais habilidades pessoais.
 
RP: Dentro da sua empresa, quantos funcionários precisam estar melhores qualificados, prontos para te atender?
HK: Eu precisaria de 50 funcionários completos. Mas de aproximadamente 150 empregados, tenho apenas três que atendem as minhas necessidades. Hoje, eu admitiria mais 50 pessoas se elas tivessem qualificação. Se todos os profissionais são competentes, a produtividade aumenta. O conjunto inteiro tem que funcionar bem.
 
RP: Qual mão-de-obra falta no Brasil, na área da metalurgia?
HK: Primeiro, não temos projetistas com conhecimentos completos para forjamento a quente e também para deformação a frio. Segundo, faltam ferramenteiros atualizados com processos modernos e com prática comprovada. Para esse cargo, por exemplo, é preciso fazer a ferramenta, operar máquinas CNC, montar ou ajustar a ferramenta, deixar o setup funcionando, entre outras atividades. E esse tipo de aula, o SENAI não disponibiliza. O curso de 2008 é praticamente o mesmo de 1970, e se hoje eu pegar um aluno de lá, e colocar para trabalhar, ele não vai saber fazer nada. Neste caso, a culpa é do SENAI, que não tem máquinas qualificadas para oferecer atividades práticas. Hoje, a tolerância das ferramentas é muito mais precisa, são milésimos de milímetros; antigamente, eram décimos de milímetros.
 
RP: Mas como o SENAI faz para adquirir essas máquinas?
HK: Precisa comprar essas máquinas, investir no conteúdo de ensino, e depois, ter professores que tenham competência de demonstrar isso aos alunos. E se os mestres forem limitados ou só parciais, também não haverá um curso completo.
 
 
 
RP: Continue nos falando das outras vagas que estão carentes.
HK: Terceiro, preparadores e operadores de prensas verticais de vários estágios com uso de automações com prática. Quarto, precisamos de preparadores e operadores de prensas horizontais de vários estágios com conhecimentos de processos e ferramentas. Quinto, inspetores de qualidade com conhecimentos de medições avançadas com instrumentos modernos. Sexto, técnico de qualidade com conhecimentos técnicos e de metrologia moderna para resolver causas e efeitos em processos mecânicos e metalúrgicos e metalografia. Sétimo, técnicos em tratamentos térmicos diversos, com conhecimentos práticos e de metalografia.
 
Para esta última função, não existe curso, os funcionários são formados dentro da empresa, e mesmo assim, eles só operam os fornos, sem conhecer os processos. É preciso saber metalografia, porque quando se tempera o aço, a metalografia se transforma e é necessário analisá-la. Oitavo, faltam operadores de empilhadeiras qualificados com prática de movimentação de materiais e manutenção de seu equipamento. Nono, engenheiros mecânicos com conhecimentos completos em processo de produção atualizados e com prática, e com conhecimentos em manufatura. Perceba quantas vagas estamos com carências!
 
RP: Mas qual a solução no caso dos engenheiros?
HK: Deveria haver uma formação mais dirigida e completa. É preciso passar um conhecimento amplo e dar mecanismos para ele ter o interesse em buscar a instrução. É preciso torná-lo competente a desempenhar funções que competem à área, torná-lo polivalente. Essa é a pessoa que o mercado precisa!
 
RP: Hoje, quanto tempo é necessário para um prensista atender as condições de trabalho?
HK: De dois a três anos. Porque primeiro ele tem que aprender tecnologia e o processo, depois montar ferramentas ou colocar essas peças numa máquina, e esse é o problema.
Não é simplesmente colocar uma ferramenta na máquina. Se você colocar a ferramenta de ponta-cabeça, ela não atenderá a função. É preciso conhecer trigonometria, ter a formação técnica básica (que já devia trazer). Quando essa pessoa aprender de verdade, estará pronta para o resta da vida, se continuar se reciclando. Caso não tenha essa formação básica, nunca será um bom prensista.
 
RP: Qual o cargo de maior necessidade?
HK: Prensistas com conhecimento de processos, ou seja, saber como as máquinas funcionam e como as ferramentas reagem. Se quebrou uma ferramenta, saber porque quebrou! E não cometer mais as falhas que levam às outras quebras. Outra necessidade é um projetista com forjamento (que saiba simular processo), e o técnico de qualidade.
 
RP: A partir do momento que não existe mão-de-obra especializada, você “canibaliza” do seu concorrente. Você acredita que isso esteja ocorrendo?
HK: Essa não seria a palavra correta, entendo isso como subtrair do seu concorrente um funcionário, e inflacionar a mão-de-obra para ter dentro da empresa uma pessoa mais preparada. Oferece a ele um salário melhor para mudar de “time”. Isso não é bom.
 
RP: Quais são suas considerações finais?
HK: Existe um total desperdício em formação profissional, a maioria não segue um planejamento de suas carreiras, e optam para vagas e cursos com nomes sofisticados. Tudo é feito pelas falsas oportunidades. Muda-se toda hora em qualquer direção que possibilite um sustento temporário na vida. Isso é empobrecimento!
 

 

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