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Entrevista
06/08/2017 05h27

Entrevista 

Phil Matten, editor executivo
da Fastener + Fixing Magazine
 
Entrevista retrata o atual cenário do mercado de fixação no Reino Unido, bem como os dilemas da era de transição que já entrou para a história
 

 The United Kingdom, o Reino Unido é uma união política de nações composta por Escócia, Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales. Nosso entrevistado é inglês, cidadão de St Albans, município localizado há 35 km de Londres. Phil Matten é o editor executivo da Fastener + Fixing Magazine, a principal mídia impressa e eletrônica europeia sobre fasteners (fixadores). Em 2011 Phil visitou o Brasil pela primeira vez em uma ação que levou a criação da Fastener Fair Brasil, a extinta feira da fixação. Desde então, tivemos diversos contatos com ele em feiras no Brasil e no exterior, além de e-mails que formaram a seção “Europa News” na Revista do Parafuso, bem como a “Brazilian News” na Fastener + Fixing Magazine. O Brexit foi o tema que originou este bate-papo com nosso “UK Friend“. So, have a good read!

O PIB anual do Reino Unido (UK) orbita cerca de US$ 3 trilhões. Deste total, quanto representa a produção industrial local?

UK é a terceira maior economia europeia, após a Alemanha e França, mas é predominantemente um mercado de serviços. Em 2016 a produção industrial representava cerca de 10% do PIB. Se incluirmos a mineração, extração e energia, ainda assim ficamos abaixo de 20%, com a agricultura em torno de 0,6% e serviços com 80% do PIB.

 Atualmente, em UK é possível ter uma produção eficiente e competitiva de fixadores?

Sim, mas apenas para fixadores de alto valor agregado, como itens de alta tecnologia usados nos setor automotivo, aeroespacial, energia e petroquímica. Em muitos casos, peças especiais e fixadores complexos, feitos de aço inox e ligas mais exóticas, representam uma proporção significativa da produção local. A produção de fixadores no padrão Internacional ISO é muito limitada, principalmente em pequenos lotes através de conformação a frio. A maioriados fixadores standard em aço carbono, para indústria em geral é importada especialmente da Ásia, além de Europa e Turquia.

Quantas indústrias de fixadores vocês têm e quanto é a produção anual?

Provavelmente temos cerca de cinquenta fabricantes, mas a maioria é pequena. É difícil avaliar com precisão o produzido, mas através de estatísticas oficiais estimamos cerca de 66 mil toneladas (t) em 2015.

Quais são os principais fabricantes de fixadores no Reino Unido? 

Considerando o número de empregados, temos a T.J. Brooks, especializada na industrialização de parafusos, porcas e outros itens para motores aéreos e células aéreas. Essa empresa começou a fabricar peças para a nave Spitfire durante a Segunda Guerra Mundial. Agora fornece aos principais fabricantes de aeronaves. Desde 1979 é uma subsidiária da “SPS Technologies”.

Outra é a “Henrob Fastening Systems”, recentemen-te comprada pelo grupo Atlas Copco, outro exemplo de fabricação britânica altamente sofisticada, mas desta vez se trata de rebites auto perfurantes usados em grandes volumes pelas montadoras automotivas e outras indústrias, como ar condicionado e a sinalizações.

A “Barton Cold Form” faz parte do grupo americano Optimas Solutions. É especialista em fixadores e peças especiais rosqueadas no setor automotivo, fornecedora das mais importantes marcas e suas cadeias de fornecedores.

A “Cooper and Turner” fabrica parafusos estruturais, especialmente nos setores de energia eólica, túneis, trilhos, petroquímica e construção.

Historicamente, outros fabricantes de fixadores em UK atuam fortemente no fornecimento ao setor Oil & Gas, seja no Mar do Norte ou em outras partes do mundo. A recente desaceleração global neste setor e, em particular em Oil & Gas offshore do Reino Unido, afetou muitas dessas empresas, levando algumas à diversificar em outros setores. Algumas reduziram significativamente.

 Ainda existe um amplo espectro de pequenos produtores de fixadores - alguns de rebites forjados a frio ou fixadores pequenos, alguns forjados a quente - mas muitos combinando conformação e usinagem, além de operações secundárias para produtos de curto prazo, peças standard e/ou especiais.
 

A importação de fixadores é quatro vezes a produção local. Em 2015 foram 270 mil t, ano em que UK exportou cerca de 60 mil t.

O quanto representam os importados no Reino Unido?
 

A importação de fixadores é quatro vezes a produção local. Em 2015 foram 270 mil t, ano em que UK exportou cerca de 60 mil t, alguns produzidos por meio da reexportação, ou seja, os mesmos fixadores importados são revendidos. Isso coloca o consumo doméstico em torno do valor de 270 mil t, menos de 1/3 do consumo na Alemanha. 

Foto durante o Pré-Show da feira de fixadores de Taiwan, 2016, promovido pelo Taitra, orgão governamental local, Sérgio Milatias e Phil Matten (sentados: 1º e 3º)

E qual é a origem dessas importações?

 Mais de metade são da Ásia. De 2009 a 2016, a União Europeia (UE) aplicou elevadas tarifas antidumping (74%) em muitos fixadores em aço carbono da China, de modo que os principais volumes vieram de Taiwan, Índia, Vietnã e Tailândia. Desde a revogação desse antidumping, em 2016, as importações chinesas cresceram, mas os importadores são cautelosos em trocar volumes completos e remeter de volta à China, em parte devido ao potencial de novas queixas e antidumping das fábricas da UE, mas também devido à volatilidade dos preços do abastecimento da China. A maior parte da outra metade dos importados origina-se da Europa e Turquia. Importações dos Estados Unidos (EUA) são pequenas, principalmente partes unificadas ou de alta tecnologia fornecidas aos fabricantes subsidiários dos EUA no UK ou UE.

 Sobre o Brexit, você votou contra ou a favor?

Votei contra, mas com reservas. Creio que deveríamos ter permanecido uma parte integrada à UE, pois os benefícios de estarmos no mercado e a cooperação pacífica dos países europeus superam as desvantagens da adesão. Preocupa-me profundamente que a burocracia da UE em Bruxelas não é devidamente responsável e que o peso regulatório que gera não é amigável para os negócios. Além de ineficientes em muitos aspectos, os mecanismos da UE são desnecessariamente onerosos e não fornecem retorno aceitável em relação às receitas coletadas. Dito isso, o voto de UK era sair e isso é democracia, no entanto, indago pelos resultados que produz, é precioso e deve ser respeitado.

Embaixador no Brasil entre 2013 e 2016, o atual Diretor Geral de Relações com a União Europeia, o britânico Alex Ellis disse: “essa saída visa nos abrirmos mais para o mundo dos negócios”. O que você acha?

Sergio, tempos atrás quando você me consultou para esta entrevista, sugeri que aguardássemos até o resultado das eleições gerais convocadas para maio - com base na posição de UK em relação à UE poderia se tornar mais clara. Temo que realmente não tenha funcionado. A eleição resultou num parlamento em que nenhum partido tem a maioria efetiva. A posição de Theresa May como primeira-ministra está em perigo e pode ser que o seu próprio partido, o Conservative Party, procure um novo líder ainda neste verão, seguindo o que se viu como uma desastrosa campanha eleitoral. Não há dúvida de que muitos no Partido acreditam que UK está melhor fora da UE. Ela deverá chegar a um acordo razoável conosco sobre o comércio e que podemos desenvolver muito mais negócios com outras partes do mundo.

Pessoalmente, creio estarem equivocadas nas três contas. As negociações com a UE serão políticas, não pragmáticas, e existem muitas posições diferentes – tanto no Reino Unido como nos 27 Estados da UE – para que seja fácil chegar a um acordo harmonioso no prazo de dois anos.

Em geral, o mundo está se tornando mais protecionista. Na verdade, é uma curiosa contradição que os negócios estão mais interligados do que nunca, enquanto os governos estão criando mais barreiras.

Em geral, o mundo está se tornando mais protecionista. Na verdade, é uma curiosa contradição que os negócios estão mais interligados do que nunca, enquanto os governos estão criando mais barreiras. Essas tendências tornarão mais difíceis para UK chegar a acordos comerciais. É difícil ver como este potencial para o crescimento do comércio global pode substituir o potencial de comércio perdido com a UE.

 A complicação adicional, agora, é que nosso atual governo está em posição fraca no mercado interno, e os negociadores da UE sabem claramente disso. Se o governo atual sobreviver, ele dependerá da cooperação de um partido minoritário para garantir sua maioria parlamentar. Essa não é a posição forte que a senhora May espera ter ao entrar em negociações com a UE.

 É mesmo tecnicamente viável que o principal partido de oposição em UK possa acabar formando um governo, mas isso significaria uma coalizão ainda mais complexa e uma maior confusão de pontos de vista “Brexit”.

No curto prazo, o principal impacto do ‘Brexit’ foi a desvalorização cambial da libra esterlina em relação ao euro, e cerca de 15% mais fraca frente ao dólar americano. Isso colocou uma enorme pressão inflacionária sobre importadores de parafusos e afins. Esse impacto, agravado pelo aumento dos custos de fixação da Ásia, faz os distribuidores médios buscarem formas de repassar significativos ajustes de preços – algo nunca fácil num setor particularmente competitivo e fragmentado.

Para os fabricantes locais é claro que a desvalorização da moeda os beneficia na exportação, mas eles sofrem a pressão dos custos das matérias-primas, o que afeta a rentabilidade, e sua capacidade de expansão provavelmente fica bem limitada sem grandes investimentos, improvável num ambiente político e econômico tão incerto.

Por enquanto, o mercado interno Britânico para fixadores é bastante dinâmico e, espero, permaneça assim. A fabricação geralmente se beneficia de ser mais competitiva nos mercados de exportação e o setor de construção continua bastante forte devido a uma escassez subjacente de habitação em UK. Mas é muito grande a incerteza, algo corrosivo aos negócios, e estamos em situação extraordinariamente incerta. As empresas de fixadores terão dificuldade em planejar seus negócios. Ainda mais importante, seus clientes estarão na mesma posição.

É a maneira britânica de enfrentar adversidades e encontrar novos caminhos. Espero que o “Espírito Bulldog” vença, não menos para o bem dos meus filhos e netos.

Phil Matten

 

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