Entrevista
Paolo Pozzi, novo presidente da EIFI
Um resumo da entrevista feita por Marco A. Guerritore, editor-chefe da revista Italian Fasteners
Formado em Engenharia Aeroespacial pelo Instituto Politécnico de Milão, Itália, Paolo Pozzi ingressou no Grupo Agrati em 1995, onde ocupou diversos cargos até se tornar Diretor Geral da controladora "Agrati SpA" e, posteriormente, membro do Conselho de Administração. Nomeado Diretor Geral do Grupo em 2008, é o CEO desde 2016. Sob sua gestão, em sintonia com a presidência, o Grupo Agrati passou por uma grande e bem-sucedida transformação, podendo se resumir ao volume atual dos negócios, orbitando € 680 milhões/ano, com 2,4 mil colaboradores, atuantes entre as 12 unidades industriais em operações na Europa, Estados Unidos e China. (Foto - Paolo Pozzi)
De talento inato à diplomacia, de personalidade envolvente, Pozzi alcançou reconhecimento global, profissional e social. Portanto, não é nenhuma surpresa essa escolha, unanime, para presidir de 2023 a 2027 a associação das indústrias europeias de fixadores, a European Industrial Fastener Institute (EIFI), decisão ocorrida na assembleia da entidade, em 12/05/2023, em Meissen, Alemanha.
O que podemos esperar da sua Presidência?
Primeiro, gostaria mais uma vez de expressar meus agradecimentos aos membros da EIFI. Espero impactar positivamente nas definições dessa nova era para o EIFI, facilitar sua adaptação aos desafios atuais no setor industrial. É crucial enfrentarmos esses desafios, representar e proteger a indústria de parafusos e similares na Europa, e suas características únicas. Isso demandará uma organização apta a colaborar estreitamente com as associações nacionais do segmento. Para isso, devemos cultivar parcerias com as instituições em Bruxelas (referente ao Parlamento Europeu, sediado na Bélgica), bem como com outras associações (AEGIS, CLEPA, EUROFER, etc.). Os desafios do presente não podem ser enfrentados com as mesmas abordagens do passado.
Como é a atual estrutura organizacional do EIFI?
Ela é composta por um presidente, dois vices, seis representantes das associações nacionais, e um diretor-geral. O mandato da presidência e diretoria foi estendido para quatro anos, podendo se estender por mais um mandato.
Nossa estrutura organizacional possui as seguintes divisões: automotiva; indústria em geral e distribuição; aeroespacial. Existem três comitês operacionais: assuntos públicos, jurídicos; TDI e desenvolvimento de sócios; tecnologia, qualidade e inovação; marketing e comunicação.
Duas novas categorias foram introduzidas entre fabricantes de fixadores: membros afiliados (empresas da cadeia de fornecimento de fixadores); membros associados (principalmente, com empresas de serviços e consultoria).
Objetivos em nosso mandato: 1) reforçar o reconhecimento e a visibilidade do EIFI em toda a Europa; 2) ampliar a base de associados; 3) fortalecer a organização
Ainda é válido a atuação de uma associação como essa, com atual nível globalizado no mundo?
Vivendo num mundo tão globalizado há mais de 30 anos, considero crucial abraçar a dimensão europeia para enfrentar novos desafios. Este princípio é aplicável não só às associações corporativas, mas também aos demais estados da UE, que por vezes ignoram o fato de fazerem parte de uma região geográfica que representa o maior mercado do mundo, e reconhecida por sua excelência em todos os setores industriais. Mesmo no caso dos fixadores, a Europa mantém-se como o maior mercado mundial, 26% do valor total de US$ 90 bilhões, superior a Ásia-Pacífico, América do Norte e China. Por isso creio valer a pena defender e dar total apoio a esse mercado e às empresas europeias que nele operam.
Fixadores europeus ainda são competitivos ao nível global? Quais os potenciais riscos a serem enfrentados?
Eu diria que em aspectos práticos ainda somos competitivos em nível mundial, especialmente se compararmos com países que operam sob regulamentações e condições semelhantes. Infelizmente, esta igualdade de condições nem sempre é garantida.
Penso que a posição da Europa, como principal mercado mundial de fixadores, pode ser atribuída aos esforços dos fabricantes europeus, e também da cadeia de fornecimento, que ao longo dos anos se adaptou e evoluiu com as exigências do mercado, levando aos fabricantes materiais e serviços de alta qualidade a preços competitivos. Não esqueçamos que a competitividade e a experiência dos fabricantes europeus de fixadores permitiram-lhes desenvolver campeões globais, e que também investiram com sucesso noutras regiões do mundo.
Sobre os riscos potenciais, eles são parcialmente conhecidos e parcialmente novos. Os conhecidos incluem desequilíbrios em relação aos regulamentos da Organização Mundial do Comércio (OMC), que levaram à imposição de direitos de importação para reequilibrar o sistema. Os novos riscos decorrem das disparidades na velocidade e nas abordagens adotadas pelas diferentes regiões do mundo para abordar as preocupações de sustentabilidade. Essas preocupações giram principalmente em torno do meio ambiente, sendo o primeiro caso de teste a implementação do CBAM (mecanismo de precificação das emissões de carbono). No entanto, esta questão vai além das considerações ambientais e abrange decisões mais amplas relacionadas com questões ESG, com cada país a adotar abordagens diferentes a este respeito.
E o que o EIFI pode fazer pelas pequenas e médias empresas?
Elas devem buscar aderir uma associação que venha a lhes defender e orientar, sobretudo se consideramos as três principais transformações a ocorrerem na Europa: a sustentabilidade; digitalização; eletrificação do setor automotivo, que por sua vez continua a ser um mercado-chave para fabricantes de fixadores. Essas mudanças profundas terão impactos significativos nas organizações, e o fato de ocorrerem todas ao mesmo tempo torna a gestão muito complexa e onerosa mesmo para grandes empresas. E isso representa um desafio insustentável para as pequenas e médias.
Ao partilhar essas transições históricas com associações que podem fornecer informações valiosas, apoio e orientação para enfrentar estes desafios, acredito que podemos promover um crescimento mais coeso e harmonioso em toda a cadeia de abastecimento. Essa cooperação pode ajudar a prevenir perturbações e descontinuidades, que poderiam potencialmente levar a problemas significativos, conforme visto durante a pandemia.
Atualmente, prevalece a crença de que o crescimento é o único meio de garantir a sobrevivência de uma empresa. O que significa realmente este crescimento e como deve ser alcançado?
Não creio que o crescimento seja a única forma de sobreviver, mas é evidente que a estagnação ou a diminuição da estatura empresarial não gera desenvolvimento de campeões capazes de competir num ambiente global e em rápida evolução, como o que enfrentamos hoje. Sem crescimento não há investimento, não há inovação, nem criação de emprego.
A Europa está na vanguarda das questões ambientais, mas isso resvala em limitações nas atividades produtivas. Como propõe conciliar?
As ações ambientais estão corretas, e ninguém quer se opor. Contudo, parece haver excessos na regulamentação, deixando pouco espaço para desenvolver estratégias abrangentes. Embora se tenham estabelecidos prazos e potenciais sanções, o cenário competitivo com empresas americanas e chinesas parece ter sido ignorado. O risco está em criarmos regras para um jogo com árbitros altamente qualificados, apenas para descobrirmos que outros entraram em campo antes de nós. Isto é verdade não só na transição para veículos elétricos (EV), onde a Europa está atrás da China, Coreia e Japão em tecnologia de baterias, mas também no setor da alta tecnologia, onde enfrentamos uma lacuna tecnológica, carente de intervenientes-chave em comparação com países como os Estados Unidos e a China. Tal contradição poderia ser resolvida através de maior colaboração entre a Comissão Europeia (CE) e as associações corporativas. Juntas, elas podem trabalhar em estratégias que tenham em conta a velocidade da transição e os efeitos negativos a surgirem no curto prazo. Um excelente exemplo são os novos regulamentos sobre as emissões dos automóveis com motores Euro 7, previstos para julho de 2025. Esses regulamentos implicam custos significativamente mais elevados que os inicialmente estimados pela CE, enquanto proporcionam benefícios ambientais limitados.
Estamos vendo um período de mudanças e incertezas, especialmente na indústria automotiva. Quais previsões tens, e o qual papel o EIFI terá?
Creio que a transição dos EV é irreversível. Não há como voltar atrás, dados os enormes investimentos globais feitos pelas montadoras. Números recentes mostraram avanços inesperados não só na China, mas também na Europa, embora em taxas variáveis entre os países do norte e do sul. O objetivo de ter uma mobilidade totalmente elétrica na Europa até 2035, que poderia parecer implausível há alguns anos, ficou mais viável. Desde 2019 vemos um crescimento exponencial na proporção EV, com 21% em 2022, 9% desses são veículos elétricos à bateria (BEV). Alguns países do Norte, como a Noruega, já alcançaram uma impressionante taxa de 80%. Avaliar como esses países atingiram esses níveis fornecerá informações sobre a meta de sustentabilidade para 2035 na Europa. Persiste a incerteza no curto prazo relativamente à procura global de automóveis, que será sem dúvida impactada negativamente pela reduzida disponibilidade de crédito, custos mais elevados, efeitos de uma possível recessão, e níveis de preços relativamente elevados dos EV, particularmente nos segmentos A e B.
Sobre a evolução dos automóveis, o EIFI irá colaborar estreitamente com outras associações automotivas, nacionais e europeias, e enfrentar desafios que venham a surgir. O fundamental está na gestão eficaz de grandes quantidades e variedades de produtos, especialmente para fabricantes de fixadores. Isto exigirá habilidade e desenvolvimento de processos para criar materiais, revestimentos e componentes. Além disso, será essencial um conhecimento mais amplo em áreas além da mecânica e dos materiais metálicos. Demandas por produtos mais diversificados conduzirá também a uma maior complexidade na logística e distribuição, bem como na necessidade de convergência para padrões ainda por definir. Por último, os componentes dedicados exclusivamente aos veículos de combustão irão diminuir gradualmente em volumes, afetando negativamente os custos de produção pela redução das economias de escala, seguindo uma lógica semelhante à qual já vimos para os componentes utilizados exclusivamente para motores diesel.
PAOLO POZZI