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Entrevista: Júlio Milko
30/08/2007 01h28

Ex-presidente da Metalac, esteve no comando da empresa por 37 anos sempre se dedicando ao desenvolvimento de novas tecnologias, modernização do parque industrial e constante melhoria no atendimento às exigências do mercado, sem esquecer-se do bem-estar dos funcionários e da comunidade.

 

Revista do Parafuso (RP): Fale um pouco sobre o você.
Milko: Eu sou húngaro de nascimento, vivi na Hungria até depois da guerra, mas três anos depois disso tive que sair de lá por motivos políticos. Passei um tempo na Áustria, fui para a Argentina e depois vim para o Brasil numa missão, gostei mais do clima daqui e, como ainda era solteiro, acabei ficando. Vai fazer 55 anos que cheguei ao país.
RP: Qual é a sua visão do início da indústria parafuseira no Brasil?
Milko: Eu não conheço o início. Eu imagino que a produção de parafusos tenha começado na década de 30, talvez durante a revolução de 1932, quando São Paulo ficou bloqueado e não conseguia trazer nada do exterior. Em todo o mundo a fabricação de parafusos, como toda a indústria, começou para suprir as necessidades do mercado com um produto mais barato do que era feito antes, porque coisas rosqueadas eram feitas artesanalmente desde o tempo dos romanos, dos gregos, que as utilizavam para as prensas de extração de azeite de oliva.
RP: Como o você começou nesse setor?
Milko: Quando eu entrei neste mercado, em 1958, já existiam outras empresas, a própria Metalac já existia desde 1953 e fabricava parafusos cuja importação ficou muito difícil por causa da guerra da Coréia e o rearmamento da Inglaterra e dos EUA em vista da ameaça soviética. Eu e meu sócio éramos do ramo de papel, de máquinas de impressão, não éramos parafuseiros. Com a minha formação de técnico de fabricação de papel, busquei me instruir e fui lendo e aprendendo por conta própria. Aí então fomos em frente para provar que no Brasil se pode fazer um produto se não superior, pelo menos igual ao que se faz de melhor no mundo.
Acho que nesse setor fomos bem pioneiros. Não foi fácil, os primeiros anos foram muito difíceis, até financeiramente. Depois fomos em frente. No Brasil, ao que me consta, até 1958, ninguém fabricava parafusos com tratamento térmico – eles eram feitos de aço de baixo teor de carbono e não passavam por tratamento. A resistência do parafuso era relativamente pequena, porque eram utilizados para coisas comuns como construção civil e até mesmo nos automóveis, que também usam muitos parafusos que não precisam de resistência. Com a implantação da indústria automobilística, surgiu a necessidade de produzir parafusos de alta resistência e confiabilidade.
A Metalac se especializou em parafusos desse tipo para motores, rodas, esteiras de tratores, direção, caixa de câmbio, etc. Em 1959 fomos os primeiros a importar da Alemanha fornos, muito modernos na época, para tratamento térmico. Nós nunca entramos na fabricação de parafusos de aplicação geral. Hoje, pelo que me consta, a Metalac está ainda mais especializada do que na minha época. Além disso, ela foi líder em exportação: começamos a exportar parafusos em 1962. Nós chegamos a exportar para os EUA parafusos de biela para motores aeronáuticos, exportamos parafusos com sextavado para o Japão, África do Sul, etc. Um de nossos clientes diretos era a Força Aérea Israelense.
RP: Como era o setor parafuseiro naquela época?
Milko: Naquela época já havia parafusos para madeira, sextavados para aplicação mecânica, de rosca soberba e um princípio de fabricação de parafusos com sextavado interno, que na parte comercial era o mais nobre, o mais caro, porque eram coisas usadas em máquinas operatrizes, ferramentas, e já requeriam uma responsabilidade maior, enquanto os outros não precisavam disso.
RP: Como o setor se desenvolveu?
Milko: Como eu disse anteriormente, a instalação da indústria automobilística no Brasil aumentou muito as exigências qualitativas e as quantitativas, porque os fornecedores dessa indústria precisaram cuidar da qualidade e confiabilidade de seus produtos. No início, as empresas eram montadoras, depois é que os automóveis passaram a ser totalmente fabricados no país. A produção mesmo começou em 1958 ou 1959, o primeiro carro realmente brasileiro foi o DKV da Vemag.
RP: E o crescimento da Metalac?
Milko: Um fator primordial para o desenvolvimento da Metalac foi o incentivo do governo que tinha como objetivo desenvolver a indústria parafuseira (parafusos e peças rosqueadas). Obtivemos financiamento com juros subsidiados do BNDE para importação de equipamentos e num segundo momento, na década de 70, para a construção da fábrica em Sorocaba, que naquela época era uma coisa única no mundo. Quando nós inauguramos a fábrica em 78 veio gente da Itália, da Alemanha para visitar e conhecer as novas e modernas instalações. Quem me ajudou a desenvolver este projeto foi meu amigo James L. Macdowell, um dos nossos sócios americanos, que infelizmente faleceu antes da inauguração. Se não me engano, essa fábrica foi a primeira construção de concreto pré-fabricado com 25 metros de vão. O volume de produção da Metalac em 1958 era de 3 ton/mês, em 1994 passou a 300 ton/mês, hoje é de 1.400 ton/mês.
RP: O Sr. sempre valorizou o que hoje se chama de responsabilidade social?
Milko: Sim! A Metalac sempre procurou ser consciente de suas obrigações para com a comunidade. Em 1959, quando nós mudamos para a fábrica na rodovia Anchieta, instalamos uma escola para os nossos funcionários. Naquela época era muito difícil contratar mão-de-obra qualificada, muitos não sabiam ler nem escrever; então precisávamos ensiná-los para que pudessem depois freqüentar um curso técnico ou mesmo um treinamento na própria empresa. Assim, podiam ler um desenho, uma especificação, anotar números e fazer os relatórios. Mais para frente formávamos o nosso pessoal em desenho mecânico e algumas outras coisas. Depois passamos a enviá-los para os cursos do Senai.
Quando mudamos para Sorocaba foi possível desenvolver um trabalho maior voltado para o bem-estar social. Em 1985, criamos a creche Elizabeth Milko, que leva o nome de minha mãe e atende hoje 120 crianças de zero a seis anos, filhos de funcionários e da comunidade. Fundamos também o clube, reinaugurado recentemente, para funcionários e familiares, com uma grande piscina em forma de sextavado, vestiário, campo de futebol, quadras poli esportivas, etc., com capacidade para 1200 pessoas. Para a construção da fábrica nova houve a necessidade de movimentar 80 mil m³ de terra para fazer as plataformas, na época achamos melhor comprar as máquinas e realizarmos o trabalho com o nosso pessoal mesmo; depois do trabalho pronto doamos as máquinas para a prefeitura. Com isso, conseguimos que as ruas ao redor do terreno fossem asfaltadas.
RP: Hoje você está fora do mercado parafuseiro, a que você se dedica?
Milko: Eu me desliguei do mercado parafuseiro em agosto de1995, quando vendi a minha participação na Metalac. Hoje me dedico a outros negócios, mas continuo ligado a algumas coisas que eu comecei em Sorocaba. A Metalac fez muita coisa na Associação de Eventos Culturais e realizou diversos seminários sobre economia, contabilidade, finanças, às vezes até política, para os executivos da cidade com o apoio de outras tantas empresas. Essa associação fazia 52 eventos culturais por ano, um por semana, envolvendo entre outras coisas música erudita e teatro de primeira classe, trazidos de São Paulo, porque Sorocaba não tinha vida cultural. Nos primeiros concertos havia cerca de 120 pessoas na platéia, depois, precisamos fazer duas apresentações dos concertos, pois o público lotava o Teatro Municipal.
Atuando ainda na área da cultura, a Metalac é sócia fundadora e mantenedora da Fundação de Desenvolvimento Cultural (Fundec), da qual eu participo como presidente do conselho. É uma entidade sem fins lucrativos que tem como principais objetivos o patrocínio, apoio e incentivo a todos os movimentos que visem o desenvolvimento da cultura e das artes em geral. Ela mantém e administra a Orquestra Sinfônica Municipal e participou, com destaque, na formação da Escola de Música Clássica e da Orquestra Jovem de Sorocaba. A Fundec tem a concessão da prefeitura para administrar o Teatro São Rafael, atual Palácio Brigadeiro Tobias, talvez o teatro mais antigo do estado, hoje sede da fundação, onde funciona a nossa escola de música, balé, artes cênicas, fotografia, etc. que atende cerca de 700 alunos, sendo em torno de 200 crianças em iniciação musical, tudo totalmente gratuito.
RP: Qual é a sua visão da economia de um modo geral?
Milko: Justiça é a base de organização de todas as sociedades. Começando com os babilônios, com os sumérios, com os egípcios, sem uma base de justiça não dá. Não importa quem é o dono da empresa, o importante para a sociedade local é que tenha uma empresa que seja bem administrada, que funcione direito e que contribua para a criação de riqueza. No Brasil uma companhia de capital aberto tem que distribuir 25% do seu lucro em dividendos; a Metalac sempre distribuiu um terço e reinvestiu o resto. Isso é importante para a sociedade. As sociedades mais ricas são as sociedades originalmente mais pobres. Ou seja, as sociedades que há uns 200 anos eram as mais pobres, hoje estão entre as mais ricas do mundo: Suécia, Irlanda, Suíça. A Suíça, por exemplo, tem leite, mas não tem cacau e faz o melhor chocolate do mundo. Eles não produzem seda, nem algodão e fazem os tecidos mais finos, mais caros.
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