Especial
Ação da UE poderá interromper o abastecimento de fixadores
"Ao aplicar tarifa de até 86,5% sobre fixadores feitos na China, a União Europeia (UE) está criando um problema permanente de abastecimento para sua indústria local, colocando assim em risco a produção Made in EU. Essas taxas, excessivamente altas, atingirão nossas empresas que já vem sofrendo enormes problemas de abastecimento. É completamente incompreensível que a Comissão Europeia (CE) queira tornar a situação do abastecimento ainda pior, sob circunstâncias excepcionalmente difíceis."
Resposta de Volker Lederer, Presidente da European Fastener Distributor Association (EFDA), devido à divulgação das conclusões da CE a partir de a investigação antidumping AD676 emitida em 14 de dezembro de 2021.
A CE pretende instituir um direito anti-dumping sobre as importações de parafusos e fixadores similares, em ferro e aço, Made in China. Uma tarifa de 39,6% está sendo planejada para um grupo limitado de exportadores de fixadores chineses. No entanto, a tarifa geral do imposto deverá ser de 86,5%. A CE iniciou a investigação em 21/12/2020 após denúncia vinda de fabricantes de fixadores europeus. Segundo a CE, essa tarifa será imposta até 17/02/2022, o mais tardar. Antes disso, os governos dos Estados-Membros da UE vão votar a medida definitiva.
Essas tarifas atingirão todos os setores da indústria e comércio na Europa, bem como os consumidores, que dependem de um fornecimento confiável, dentro das normas internacionais. Esses itens de engenharia de precisão aparentemente simples e de baixo valor - sejam parafusos, porcas ou arruelas - são indispensáveis para a fabricação de carros, bicicletas, máquinas de lavar, painéis solares, colheitadeiras, móveis e trens, bem como em manutenção e reparos em geral, como no consertar de uma porta, reparos em equipamentos de jardim ou mesmo ao fixar um quadro na parede. Mas esse impacto também será sentido por escolas, fabricantes de alimentos e o setor de saúde, que precisam de carteiras escolares, equipamentos de refrigeração ou dispositivos médicos, itens que usam muitos fixadores, e que sem eles tudo fica inviável.
Os importadores e distribuidores europeus fornecem para indústrias locais vastas linhas de fixadores, garantindo assim produtos disponíveis na hora e local correto. Para as indústrias a disponibilidade permanente de itens standard é indispensável para que seus produtos sejam feitos na UE e vendidos nos mercados mundiais. Qualquer interrupção nessa cadeia de fornecimento trará impactos desproporcionais. Portanto, qualquer intervenção na cadeia de abastecimento deve ser considerada.
Os gargalos no fornecimento de fixadores vêm gerando mais dificuldades em atender as demandas industriais e de consumidores. Seus prazos de entrega, em muitos casos, triplicaram desde 2020, estando hoje entre 8 e 14 meses. Os custos dos contêineres estão dez vezes superiores se comparado a 2019, enquanto as matérias-primas como o aço explodiram em preços. As paralisações em fábricas em todo o mundo, devido à pandemia, complicam ainda mais. E isso não apenas tornou os fixadores escassos, mas aumentou drasticamente seus custos.
Essa tarifa de 86,5% é ainda superior às tarifas impostas entre 2009 e 2016 que, por sua vez, foram finalmente retiradas após uma sucessão de decisões contra a UE pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Durante esse período, o fluxo de importação vindo da China entrou em colapso. Os fabricantes europeus de fixadores, apesar das garantias contrárias à CE, não foram capazes ou não quiseram aproveitar e déficit – que foi substituída quase inteiramente por importadores de outros países asiáticos.
"Agora, apesar das extensas evidências apresentadas pela EFDA, a CE está aparentemente decidida a fazer ainda melhor! Num ambiente com a cadeia de abastecimento pior do que em 2009, as tarifas propostas são definidas para quase o dobro dos preços, e que já explodiram nos últimos doze meses. Além de impulsionar a inflação para muitos usuários e consumidores europeus de fixadores, a aplicação dessa tarifa colocará ainda mais pressão sobre a, já restrita, capacidade dos fabricantes fora da China, e aumentará ainda mais seus gargalos de fornecimento. Dada a crise de fornecimento existente e o peso das tarifas propostas, as consequências para a economia e consumidores serão devastadoras. A CE, no entanto, ignora completamente essas consequências!”
Essa tarifação criará uma lacuna de fornecimento permanente intransponível, e que não será coberta pela troca por fabricantes da Europa ou de outro lugar qualquer. Em outros mercados do Leste Asiático, como Taiwan, Tailândia ou Vietnã estão com a capacidade produtiva exauridas porque, bem antes, as empresas norte-americanas já tinham formado parcerias com esses mercados, fato gerado pelo comportamento protecionista da gestão Trump sobre as importações chinesas.
Por sua vez, as indústrias europeias de fixadores não estão disponíveis para substituir os chineses, pois, elas já estão com sua capacidade tomada e não há melhorias à vista. Quase sem exceção, os fabricantes europeus produzem parafusos e outros itens especiais de alta performance, especialmente a mercado automotivo global, enquanto as importações da China abrangem itens standard e mais simples.
Para fazer fixadores standard os produtores da UE nunca terão capacidade de produção suficiente. Eles mesmo não fizeram isso quando as tarifas de 2009 a 2016 foram aplicadas. Por sua vez, a EFDA representa os interesses de importadores, atacadistas e distribuidores de fixadores na Alemanha e na Europa. A entidade esteve ativamente envolvida nesse processo de investigação da CE como parte interessada. Desde o início ela apresentou argumentos e provas abrangentes pelas quais a tarifação sobre os fixadores chineses não seria adequada. Para consternação da EFDA, a CE mal abordou os contributos da associação na sua decisão.
"Portanto, essa tarifação nada tem a ver com estabelecimento de condições isonômicas. Contrário, distorce arbitrariamente um mercado já extremamente tenso. Os governos nacionais dos Estados-Membros da UE têm de levar a sério os interesses das suas economias, na produção, construção e consumo, e aconselhar o CE a reconsiderar suas decisões", concluiu o Dr. Lederer.
Dr. Volker Lederer