Editorial
Da panela ao panelaço
Refletindo sobre quais seriam as dez das maiores invenções da história isso poderia nos remeter a pensar em coisas criadas entre os Séculos XX e XXI, como o avião, o telefone ou as inovações feitas por figuras ímpares como Bill Gates e Steve Jobs. Ledo engano.
Entre as maiores invenções se encontram o cimento, há cerca de 4500 anos no Egito; o forjamento de metais, há séculos antes de Cristo; o arame farpado, do Século XIX, artefato metálico decisivo em delimitações mais precisas entre terras e terrenos.
Muitas das grandes invenções surgiram do acaso, na pré-história, tal como martelos e machados, além da roda e, principalmente, a panela. Acredita-se que as primeiras panelas eram feitas de cascos de tartaruga, mas o “pulo do gato” está em si no processo de aquecimento, fervura e homogeneização.
Convenhamos, o fato de um ser da pré-história ser capaz de unir água e fogo por meio de um mesmo recipiente é de uma imensurável genialidade.
O método de unificação água e fogo não é só uma questão alimentar, pois isso se estende a outros tipos de produção. Mas, foi a comida cozida que permitiu aos nossos cérebros um desenvolvimento infinitamente superior aos outros animais, nos mantendo em processo evolutivo, transformador contínuo e, ainda, sem precedentes no universo.
Ainda por volta de 1830, na França, ela foi transformada num instrumento sonoro de manifestação política, modalidade que fez sua estreia no Brasil em 2013, conhecida por aqui como panelaço.
Portanto, a panela tem sido ao longo dos milênios um fundamental instrumento em nossa capacidade de raciocinar, escolher ou não escolher e, principalmente, de questionar, muito essencial no ano novo que vem aí.
Sérgio Milatias
milatias@revistadoparafuso.com