Salim Brahimi, novo diretor de tecnologia do IFI
Reconhecido expert da indústria de parafusos e afins, presidente do Comitê ASTM F16 em fixadores, ele assume o cargo ocupado há 45 anos por Joe Greenslade
Nascido no Irã e criado no Canadá, atualmente nosso entrevistado preside a Ibeca Technologies Corp., Canadá, e é membro licenciado da Ordem dos Engenheiros de Quebec. Os mais de 26 anos de experiência o tornou um profissional completo no setor de fixadores. É mestre em engenharia de materiais e pós-graduado em administração pela Universidade McGill, em Montreal, onde está doutorando sobre fragilização por hidrogênio em fixadores. Preside o Comitê ASTM F16 em fixadores, como chefe da delegação canadense para ISO TC2 Comissão de Fixação, e como vice-presidente do Conselho de Pesquisa em Conexões Estruturais (SCVC). Foi laureado com o “Fred F. Weingruber Award” pelo ASTM Committee F16, por suas contribuições para o desenvolvimento de normas para fixação, especialmente em fragilização por hidrogênio. Em 2015, recebeu o “IFI Soaring Eagle Technology Award” pelo IFI devido suas contribuições para a indústria de fixação, especialmente em materiais e acabamentos e seu impacto sobre as falhas induzindo hidrogênio em parafusos de alta resistência. Enfim, o histórico de Brahimi não para por aqui, mas vamos à entrevista.
Por favor, fale sobre os principais desafios em que você enfrentou no setor de fixadores.
Eu lido muito com aspectos de produção e, da engenharia de fixadores e juntas aparafusadas, o que me faz confrontar com muitos casos de fixadores com falhas. Na maior parte do tempo, os problemas estão relacionados com a escolha errada do fixador desde o pedido ou sua instalação inadequada. Assim, a forma ção e a educação é um grande tema de interesse.
Passei muitos anos estudando a fragilização por hidrogênio em fixadores (Fastener Hydrogen Embrittlement), principalmente por meio da direção de um programa de pesquisa na Universidade McGill, em Montreal.
Mas minha carreira começou em 1989, na Galvano, uma empresa de tratamento de superfície, particularmente em zinco, fosfatização e galvanização por imersão à quente. Fui apresentado ao tema fragilização por hidrogênio literalmente no primeiro dia. Naquela época, eu estimo que de 10 a 15 toneladas de fixadores grau 8 haviam recebido galvanização eletrolítica sem qualquer cozimento (para remover o H introduzido durante a galvanoplastia). Esta prática vem acontecendo há décadas e nunca teve um fixador falho nos testes de fragilização realizados após o chapeamento, nem tem qualquer fixador que falhou em serviço como resultado deste processo. No entanto, esta prática é contrária à prática aceita no setor automotivo, onde o grau 8 e PC10.9 são sistematicamente cozidos, normalmente durante quatro horas. Depois de vários anos de trabalho, em 1998 um grupo de trabalho da ASTM dirigiu e desenvolveu a norma ASTM FI940, um método de ensaio que quantifica o risco da fragilização colocada por um processo de revestimento. Ao mesmo tempo, desenvolvi uma outra norma ASTM, a F 1941, uma especificação galvano para fixadores. A ASTM F1941 reconhece formalmente a prática do não cozimento do grau 8 ou peças PC 10.9 por não ser obrigatório o cozimento abaixo de uma dureza especificada a 39 HC (380 HV).
O programa de pesquisa sobre FH na Universidade McGill começou em 2006. O modelo é colaborativo. Isso significa que os projetos são patrocinados pela indústria e pelo governo canadense. A parceria industrial foi conduzida pelo IFI e CFI (Canada Fasteners Institute). Quase dez anos após, o projeto evoluiu com grande distinção em um centro de especialização que é reconhecido em todo o mundo. É graças ao conhecimento adquirido nesta investigação, apoiada por muitos anos de estudos, que me tornei uma autoridade sobre “Fastener Hydrogen Embrittlement”. Como a equipe de investigação continua a explorar a fragilização, minha preocupação pessoal e prioridade é ajudar a melhorar as práticas da indústria através da revisão e, em alguns casos, reescrever os padrões de fixação. Em respeito à fragilização, os padrões atuais da indústria podem ser inconsistentes e confusos. Passo muito tempo trabalhando para este fim em consenso com organizações de normas, especialmente nos comitês de normas para fixação, tais como a ASTM F 16 e a ISO TC2.
Quais são as principais atribuições ao ocupar este posto?
O diretor de Tecnologia de Engenharia é responsável pelo desenvolvimento e manutenção das atividades de engenharia técnica do instituto, suas comissões técnicas e divisões. O diretor representa o instituto em comitês e órgãos nacionais e internacionais que lidam com os aspectos técnicos do que é produzido por seus membros e suas aplicações. Isto inclui, mas não se limita, a participação ativa com a American Society of Mechanical Engineers (ASME), a American Society for Testing and Materials (ASTM), o SAE International, o Research Council on Steel Construction (RCSC), da International Organization of Standards (ISO) e outras associações e comitês de engenharia de entidades e governo. O diretor informa regularmente aos membros sobre as atividades em fase de desenvolvimento nesses órgãos e como ele podem impactar nos negócios.
Quanto tempo você pretende permanecer neste posto?
Contanto que eu possa desempenhar um papel positivo e construtivo para a adesão no IFI, enquanto o instituto desejar minha permanência.
Fale sobre as atividades já realizadas em tecnologia, inovações e sistemas de fixação de segurança da IFI.
A contribuição mais sustentável pelo IFI é o seu papel no desenvolvimento de normas, trabalho que não é tão visto, mas bastante significativo. Ele também tem feito um grande esforço para promover a formação, apoiando por muitos anos o trabalho do Fastener Training Institute (FTI). Recentemente, o instituto tem investido no desenvolvimento do programa de treinamento para membros que tem sido muito bem recebido pelos mesmos. O foco é na maior profundidade sobre os aspectos de fabricação.
O IFI também tem sido um parceiro industrial contínuo na pesquisa que venho realizando no Hydrogen Embrittlement (HE), da Universidade McGill, no Canadá. O programa de pesquisa sobre HE começou em 2006 como uma colaboração em investigação e desenvolvimento do projeto (Collaborative Research and Development - CRD) co-patrocinado por um parceiros industriais e do governo do Canadá. O IFI tem sido um significativo patrocinador industrial, tendo um assento no Comitê Consultivo que supervisiona o andamento do programa.
O IFI deve continuar a liderar o caminho em termos de formação e educação. Ainda há muito trabalho a ser feito para tornar prontamente disponível o conhecimento em fixação.
Que impactos você espera atingir nos próximos cinco ou dez anos?
O IFI deve continuar a liderar o caminho em termos de formação e educação. Ainda há muito trabalho a ser feito para tornar prontamente disponível o conhecimento em fixação. Isto irá servir para a dupla finalidade de preparação e desenvolvimento de pessoal de alta qualidade já na indústria e também para garantir o futuro, oferecendo um caminho para trazer novos e/ou jovens para nossa indústria.
Acredita que grande concentração da produção de fixadores na Ásia se manterá por muito tempo, ou os custos de produção poderão tornar-se quase o mesmo do que no ocidente em alguns anos?
Considerando que a maioria dos elementos de fixação são produtos de base produzidos em massa, a relação custo-benefício é fundamental, razão pela qual a produção é cada vez mais deslocada para o desenvolvimento de mercados, notavelmente na Ásia. A capacidade dos fabricantes asiáticos varia e, enquanto a experiência está crescendo, ainda não há consistência. No entanto, eu acredito que com o tempo eles vão chegar a um ponto em que os melhores fabricantes vão se destacar. Já na América do Norte e Europa, não é rentável fazer produtos com baixa margens. Aqui, EUA, a produção pode ter sucesso através de itens de maior valor agregado, caso do fornecimento para indústrias automotiva e aeroespacial. Essa combinação de valor agregado e mercado são o futuro para os players da América do Norte e Europa, e isso implica em muitos investimentos em inovação e tecnologia.
Fale sobre esse período de transição com Joe Greenslade.
Tenho trabalhado em estreita colaboração com o Sr. Greenslade ao longo dos anos sobre muitos temas, incluindo o desenvolvimento de normas e treinamento. Então, estou familiarizado e já envolvido em muitos aspectos com meus deveres. O período de transição de três meses destina-se a garantir uma hand-off perfeita de responsabilidades, deveres administrativos e de relatórios.
Gostaria de falar sobre o Sr. Greenslade e seu trabalho na IFI?
Mr. Greenslade simboliza amor e paixão por seu trabalho e para a indústria de fixadores. Ele tem sido uma força motriz na inovação e na formação. Um muito impressionante e duradouro legado é a criação do IFI Connection Technology. Qualquer um pode se inscrever para o Technology Connection sem ter que ser uma empresa membro do IFI. Outra realização impressionante é como ele tem desenvolvido o diálogo e a colaboração com os nossos colegas internacionais por meio do Comitê Técnico da ISO sobre Fixadores (TC2). Ele consolidou o uso de padrões métricos ISO (em oposição às normas métricas US) no mercado norte-americano. É incansável em seus esforços e energia. Eu me sinto muito feliz por ter trabalhado com ele e ter aprendido com ele. Será uma grande responsabilidade ser bem sucedido como ele na IFI como seu sucessor.
Você já tem em mente algumas ações iniciais ao assumir?
Em 2016, eu pretendo conhecer e visitar os membros da IFI e instalações com as quais ainda não estou familiarizado.
Você conhece ou já visitou o Brasil?
Nunca visitei seu país, apesar de eu ter alguns clientes no Brasil e um dos meus companheiros de pós doutorado da Universidade McGill também ser brasileiro. O futebol é uma grande parte da minha vida, então eu sou um grande fã da Seleção, mesmo com a Copa do Mundo 2014. Eu costumava jogar ao mais alto nível amador e atualmente sou treinador-adjunto de uma equipe da Universidade. Ainda menino, encontrei Pelé várias vezes “Pelé Soccer Camps” em Nova York, anos após ele se aposentar do New York Nunca vou esquecer isso!
É possível que o IFI aceite uma parceria para atuar no Brasil e América do Sul?
Se houver um caso a ser feito para uma colaboração que iria beneficiar mutuamente a associação IFI e a indústria brasileira de fixadores, então eu certamente estaria interessado em estudar o assunto.
Salim Brahimi
Industrial Fasteners Institute
techinfo@indfast.org