Persona
Produtividade: um conceito sob revisão
Produtividade é muito lembrada em momentos de crise, quando se procura atribuir, comparativamente, ao trabalhador brasileiro a responsabilidade do baixo desempenho. Geralmente se faz uma rasa comparação com outros países, tendo por base a produção obtida pela incidência da mão de obra aplicada. Erra-se ao considerar um único indicador e não indicadores múltiplos (capital aplicado, tecnologias, especificação otimizada dos insumos, planejamento eficaz das operações) e mais as condições de anterioridade do Ambiente Territorial (moradia, saúde, capacitação, segurança, mobilidade) oferecidas ao trabalhador, ou seja, onde o trabalhador vive com sua família. Esta condição precária influi diretamente em seu desempenho no Ambiente de Trabalho, onde ele se vê submetido a produzir com rendimento 100% ou maior. Os fatores do Ambiente Territorial, principalmente nos grandes centros, são geradores do stress cumulativo, que provoca sensíveis “deseconomias” na produtividade do trabalhador urbano. Um estudo que realizamos na região de Osasco, a pedido do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA, permitiu aferir as perdas de produtividade provocadas pelo tempo de submissão do trabalhador ao transporte urbano, em seus percursos de ida e volta de sua moradia ao local de trabalho, da ordem de 17% em percursos diários de 4 horas. Esta medida projetada para o setor produtivo, ao longo do ano, representa um volume desastroso para a economia. Mais ainda, este regime de estresse está simultaneamente condicionado à poluição, ao assédio e insegurança, ao desconforto físico pela falta de pontos de ônibus cobertos e de assentos, ao tempo de espera e às filas intermináveis, ao sacrifício do atendimento familiar, a uma vida social em sua comunidade e à renúncia de continuidade de estudos, forçados que são pela pesada rotina extra emprego não remunerada a que se obrigam. Nisso tudo há uma enorme hipocrisia da Tecnocracia que não considera, de modo geral, a influência dos fatores externos no desempenho do trabalhador urbano em seus postos de trabalho e isto é uma questão de Políticas Públicas com reflexos em Mobilidade Urbana, Saúde do Trabalhador, Desenvolvimento Humano, Engenharia de Produção e Economia. Mais fácil tem sido nominar e responsabilizar aqueles que se acham na linha de frente, nas trincheiras do enfrentamento em suas lutas diárias pela sobrevivência numa condição altamente hostil e de efeitos nefastos.
Alfredo Colenci Junior
Consultor Empresarial, Professor do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza CEETEPS (1973-2010) e da Escola de Engenharia de São Carlos - USP (1980-1999). Foi vice-diretor superintendente do CEETEPS (1987-1989 e 2000-2004), gerente de engenharia da Metalac S.A. (1967 - 1987). Foi também pioneiro na Educação Superior Tecnológica.
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