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34ª SENAFOR
Panorama mundial e os avanços do último ano
Evento de três dias contou com produtivas visitas técnicas e debates sobre as necessidades das empresas no setor de forjamento
Completando sua 34ª edição, o Senafor – que aconteceu no último mês de outubro em Porto Alegre/RS - mantém- se como um encontro para apresentações de avanços tecnológicos no campo do forjamento metálico (conformação mecânica em metais longos e em chapas), da metalurgia do pó e das energias renováveis.
Durante o evento, doutores, mestres, professores e pesquisadores de diversas partes do mundo, como de costume, apresentaram em palestras seus mais recentes resultados, sejam eles no desenvolvimento da produtividade, na redução de custos, segurança e impactos ambientais, tanto em materiais quanto em processos, sendo que em 2014 o tema central foi titulado de “Inovação, Produtividade e Eficiência Energética”.
Com início na 4ª feira, 8 de outubro, ocorreram as tradicionais visitas técnicas em fábricas da região, como aconteceu com a Dana e a General Motors, ambas na cidade de Gravataí, além da EPI Energia Projetos e Investimentos, essa em Cruzeiro do Sul, município próximo. Já em Porto Alegre, as visitas foram na Imer (fabricante de moldes para injeção de alumínio, plástico e zamak), além do Laboratório de Transformações Mecânicas e no Laboratório Mecânico de Ensaios por Fadiga (respectivamente LdTM e Lamef) ambos dentro do campus da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em São Leopoldo, as visitadas foram a Polimetal, Soluções Usiminas e Stihl.
Um dia após, começou o ciclo de palestras técnicas, realizado em dois dos três dias, que foi aberto pelo professor e doutor Lírio Schaeffer, presidente da Comissão Organizadora que, numa sucinta fala, passou a palavra para o doutor e engenheiro Mauro de Souza, da Tekfor/Amtek, o primeiro palestrante.
Mauro Moraes de Souza
Recentemente chamada de Neumayer-Tekfor, que possui plantas em Jundiaí, SP e Betim/MG, a empresa é especializada no desenvolvimento e produção de sistemas e componentes automotivos. Adotou o novo nome desde que se integrou à Amtek, grupo global de origem indiana, dona de um faturamento anual superior a US$ 2 bilhões.
Moraes, Engenheiro Chefe da companhia, ao apresentar o tema “Inovação de produtos por meio de inovação dos processos de conformação e combinação de materiais com vistas ao desenvolvimento de componentes automotivos leves”, demonstrou que uma das diretrizes da Tekfor é guiada pela sigla WOIS, iniciais de Widerspruchs Orientierte Innovations Strategie, mote alemão que se traduz como “Estratégia de Inovação Orientada pela Contradição”. Muitos exemplos resultantes dessas atividades foram apresentados, como a inclusão em um sistema na qual uma das engrenagens foi feita em plástico, gerando um ganho expressivo na redução de massa e custo, mas sem perder de vista a durabilidade.
Mesmo após os resumidos minutos da exposição, Moraes demonstrou que a inovação é tão ampla que nos faz pensar que talvez estejamos nos primórdios da mobilidade urbana, termo alusivo a uma frase do professor Sílvio Meira, uma das maiores autoridades no Brasil em Engenharia de Software, que disse que em TI estamos ainda na idade da pedra.
Luiz Roberto Imparato
“Impasses da Indústria Automobilística” foi mais um dos pontos altos, tema apresentado por Imparato, da empresa Höganäs. Na direção oposta das tendências debatidas no campo automotivo, o professor e consultor – com passagens por grupos globais, como a Volkswagen e Mercedes-Benz – começou demonstrando um cenário conhecido, desde os primórdios do “mundo automotor” e seus contrastes e impactos no “mundo moderno”. Em seguida, iniciou uma série de apontamentos que indica nossa viagem para um “auto” cada vez menos “móvel”, indicando que a mobilidade urbana deverá adotar uma rota oposta conceitual e comportamental, considerando o esgotamento do uso regular de um carro por pessoa ou de ser proprietário, altos preços para estacioná-los, entre outros. Citou o caso do Nissan Versa, modelo que custa, em Nova York/EUA, US$ 12,8 mil, valor este consumido em 16 meses somente com estacionamento.
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Nos primórdios desse modal, em slides, Imparato demonstrou que nos anúncios antigos havia muito mais foco no uso coletivo, com uma família no mesmo carro, bem diferente dos anúncios atuais, com uma moça ou um rapaz guiando, sozinhos, em avenidas e estradas livres.
O tema foi a exposição de uma realidade que demanda urgente guinada, onde na questão ambiental é bom lembrar que o motor à combustão será substituído cada vez mais pela eletricidade, algo antigo desde o nascimento do automóvel, mas que foi substituído pela abundância do petróleo, e que agora apresenta a conta a pagar, algo muito similar ao que assistimos com os cigarros.
A palestra encerrou com um vídeo muito interessante do carro do Google (http://www.youtube.com/ watch?v=dwKTnPXpdkQ), este muito mais “autônomo- móvel” do que o seu “atual antepassado”.
Kareline Bueno
A jovem autora, representante da Gerdau, apresentou o tema “Influência da adição do bismuto na usinabilidade do aço DIN 44MnSiVS6”. A usinagem tem elevado custo na cadeia automotiva, além ter inúmeros parâmetros que podem influenciar em seu desempenho. Na matéria prima, a adição de chumbo no aço foi explorada para facilitar a usinagem, mas sua toxidade e impacto ambiental tem demandado o desuso, gerando muitas tentativas de modificações e inclusões que recuperem a eficiência no processo de corte, reduzindo o custo de ferramental e de tempo. Exemplos dessas modificações são as adições de selênio, telúrio, cálcio etc., elementos capazes de modificar a morfologia dos sulfetos de manganês facilitando o processo.
Por outro lado, a adição de bismuto surge “quase como um substituto direto ao chumbo” em função das semelhanças entre as características químicas e físicas destes dois elementos. Assim como o chumbo, o bismuto permanece como uma inclusão metálica na microestrutura e, devido ao seu baixo ponto de fusão, funciona como lubrificante entre o metal e a ferramenta.
Mathias Liewald
Professor e doutor pelo instituto de conformação de metais da Universidade de Stuttgart - Alemanha, Mathias Liewald, do Instituto de Tecnologia de Forjamento (IFU), abriu o ciclo das palestras técnicas, no qual apresentou o tema “Current research activities along the process flow for manufacturing of hollow light-weight components”, que foi uma pesquisa feita ao longo do processo de fluxo para a fabricação de componentes ocos e mais leves, em substituição das peças rígidas, onde os resultados se mantiveram em níveis iguais, proporcionando redução de material, peso e custo. O trabalho envolveu o motor do sedan S-Class w222, da Mercedes-Benz.
Paulo Martins
O estudo foi intitulado como “Falha por fratura na conformação de metais”, considerando que geralmente ocorrem como fraturas dúcteis, raramente como fraturas frágeis, em temperaturas de operação e níveis de cargas que são típicas de processos reais nos modos à tração, no plano de corte e fora do plano de corte. A palestra ficou a cabo do português Paulo Martins, do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, que divide a autoria com o Dr. Niels Bay, do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade da Dinamarca; Erman Tekkaya, do Instituto de Tecnologia de Forjamento (IFU) da Alemanha; e o Dr. Atkins, do Departamento de Engenharia de Reading do Reino Unido.
Carlos Augusto Silva de Oliveira
O trabalho “Efeito da deformação a frio da martensita, da temperatura e do tempo de envelhecimentos na dureza e na microestrutura de aços maraging classe 300” é de autoria de Cássio Aurélio Suski, do Instituto Federal de Santa Catarina, Ricardo Vilain de Melo e do professor Carlos Augusto Silva, ambos da Universidade Federal de Santa Catarina.
Conforme apresentado pelo professor, para este fim as amostras foram austenitizadas à 820°C por 0,5h, resfriadas em água e seguidas por reduções de altura de 0%, 50% e 85%. Após a deformação, as amostras foram envelhecidas a 500°C e 600°C por tempos variados. Verificou- -se em amostras deformadas um aumento de dureza de até 115HV e de uma microestrutura mais refinada do que a microestrutura das amostras sem deformação.
Arjaan Buijk
Cada vez mais presente no Brasil, a Simufact- Americas, dos EUA, expôs o tema “Simulação efi ciente utilizando o Simufact.forming V12.0, com novos conjuntos de funções de aplicação” tendo como palestrante o engenheiro Arjaan Buijk. A apresentação demonstrou a versatilidade do software que permite simulações de diferentes processos transformadores de metais, onde se incluem – além do processamento de itens nas indústrias automotiva e aeroespacial outros setores como na engenharia mecânica e em fornecedores relacionados.
Com o lançamento desta versão 12, a tecnologia de conjuntos de funções de aplicativos recém-desenvolvidos (AFS) foi introduzida, sendo um importante pilar da usabilidade do Simufact, iniciativa que começou em 2012, que visa permitir uma geração mais intuitiva e facilitadora em processos de simulação complexos. Da perspectiva do usuário, esta abordagem economiza tempo nas operações diárias.
Devido à sua visibilidade imediata, AFS é uma das inovações mais significativas, sendo que na versão 12, ao iniciar o software, o usuário é apresentado a uma gama graficamente atraente, inicial de campos de aplicação, tais como: conformação a frio e a quente, conformação de chapas, laminação, matrizes de forjamento aberta e tratamento térmico, tudo mais eficiente e eficaz.
O palestrante ainda teve outra apresentação, esta sob o tema “Simulação de cadeia completa para o processo de forjamento incremental, incluindo fundição, deformação, transformação de fase, microestrutura e tratamento térmico”.
Dr. Gerhard Arfmann
“Aplicação de Simulação FEA na Conformação a Frio” foi abordada pelo Dr. Gerhard Arfmann, co-autor com o Dr. Michael Twickler, ambos da CPM GmbH, Herzogenrath, Alemanha. No artigo, os autores relatam várias aplicações da simulação no desenvolvimento de componentes industriais complexos, principalmente para a indústria automobilística. Abordaram questões de quão eficazes são os métodos de simulação, bem como onde e para que podem ser utilizados. Apresentam exemplos práticos industriais, da aplicação da simulação no desenvolvimento do processo; na resolução de problemas de trincas e dobras no produto forjado e na resolução de problemas de quebra de ferramentas. Alguns processos não convencionais e inovadores foram exibidos, todos desenvolvidos e comprovados através da simulação. Por fim, mostraram os desenvolvimentos mais recentes de componentes complexos, que estão sendo produzidos praticamente acabados por conformação a frio.
Luiz Carlos Pereira
“Microestrutura e propriedades obtidas em aço baixo carbono submetido a deformação plástica severa por extrusão angular em canal” teve como palestrante o professor Pereira, da Universidade Federal do Rio do Janeiro, coautor ao lado dos colegas de instituição Juan Carlos de Blás, Marcus Vinicius Silva, Carlos Carvalhal e Laércio Guzela.
Neste case foram apresentadas as bases da Extrusão Angular em Canal, uma técnica de deformação plástica severa capaz de melhorar as propriedades mecânicas de metais através do refino micro-estrutural, sem que as dimensões sejam modificadas significativamente. Os autores concluíram que, no processo de Extrusão Angular em Canal, uma intensa deformação cisalhante é introduzida no material. Sua aplicação a um aço 1020 resultou num aumento de 100% da dureza. O fato das dimensões do material serem preservadas neste processo o torna vantajoso para a melhoria das propriedades de matéria prima para processos de conformação.
Para finalizar, o presidente do evento L. Schaeffer encerrou o Senafor homenageando e premiando os destaques.
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Alberto Brito (Senafor), Luiz Fereira (Dana), Carlos Augusto (UFSC) e Lírio Schaeffer |
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Schaeffer Com Luciano Pinotti (Açopeças) |
Sachaeffer com Luiz Manhães (Viemar) |
Visitas técnicas Nossa equipe fez um tour nas linhas de montagem da General Motors, onde apreciamos a produção desde a entrada das bobinas de chapas de aço, logo cortadas e conformadas a frio, dando forma aquilo que chamamos de lataria (portas, para-lamas, longarinas e outras). O que podemos ver nessa unidade é que, ali, a GM realiza a construção das carrocerias e montagens das demais partes. Outros componentes, como a eletrônica embarcada ou o sistema powertrain, chegam prontas das vizinhas do mesmo condomínio, as chamadas sistemistas. Ao todo, ela produz um carro a cada 57 segundos, declarou o anfi trião Júlio Affeldt (1), gerente dessa planta, berço da produção do Celta, Onix e Prisma. Esta unidade fica em um local chamado CIAG (Centro Industrial Automotivo de Gravataí), cercado por muito verde e suas diversas sistemistas que, juntas, já produziram mais de 2,5 milhões de carros desde a inauguração em 2000. |