Gestão & Negócios
Roubar é feio?
Aos 12 anos, eu ia, com certa freqüência, num parque de diversões próximo à minha casa. Passava lá todos os dias no caminho de volta da escola. Atirar bolas de meia com uma bazuca contra uma pilha de latas de óleo era divertido. Durante a semana, o parque estava sempre vazio, e o funcionário que tomava conta da bazuca vivia num tédio de dar dó. Quando eu chegava, ele sorria de felicidade e já me dava três bolas por um cruzeiro que era deixado em cima do balcão. Eu derrubava as latas e, quando o rapaz ia arrumá-las, posicionava-se de costas para mim. Eu roubava o dinheiro deixado no balcão ao alcance de minhas mãos e pagava, com o mesmo dinheiro, por mais três tiros. A operação se realizava diversas vezes seguidas até que desse o horário de ir para casa. Diversas vezes, comentei com os meus pais ter brincado no parque, até que meu pai perguntou: “de onde você arruma dinheiro para pagar”? Gaguejei. De pronto, ele disse: “vamos até o parque que quero entender o que está acontecendo”. Questionado, o funcionário do parque disse ao meu pai que sabia que eu roubava o dinheiro para jogar várias vezes, mas que ele não se importava, pois o parque vivia vazio e eu não lhe causava prejuízo algum. Meu pai disse: “não há roubo que não cause prejuízos; vou lhe pagar o que meu filho deve, e ele, além de ser castigado, nunca mais voltará aqui”. Bem, vou poupar o leitor dos detalhes sórdidos da surra que ganhei. Hoje, estou fora da moda, nunca fui alvo de reportagens e não há capa de revista com minha foto. Estou fora do mercado da corrupção que, segundo estudo de 2008 da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), movimenta R$ 69 bilhões, ou seja, 2,3% do PIB. Não atuo com fraudes eletrônicas contra bancos, um mercado de R$ 1,5 bilhão/ano, nem no nicho de assaltos a bancos e explosões de caixas eletrônicos, cujo faturamento anual é de apenas R$ 80 milhões. Resolvi roubar descaradamente como forma de protesto. Estou aqui, sem qualquer máscara, roubando seu tempo e sua atenção nesta leitura. O Estado Democrático de Direito por certo concederá, a todos os leitores desta coluna, o direito de me processarem. De pronto, aviso: entrarei com recursos até chegar ao Supremo Tribunal Federal. Quem sabe ainda conquisto os cinco minutos de fama a que tenho direito.
Hans Müller é sócio-diretor da White Oak Marketing
hans@wocs.com.br |