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Entrevista
18/06/2012 11h09

 ENTREVISTA

 

Domingos Mosca: consultor de relações internacionais fala sobre defesa dos interesses da indústria nacional

 

O especialista destacou a relação entre defesa comercial e o mercado de parafusos e quais medidas são adotadas para favorecer o setor

 

Domingos Mosca é formado em Economia na Universidade de São Paulo,emJornalismo na Cásper Líbero e pós-graduado em INSEAD –AdvancedManagement Program – pela Stanford (EUA). Em sua trajetória profissional destacam-sea participação nas Delegações Brasileiras pelas negociações das extensões do Acordo Multifibras, em Genebra, Suíça; negociações de Acordos Bilaterais de Exportação de Têxteis com os governos dos EUA, Suécia, Canadá e Comissão da Comunidade Econômica Europeia; e administração do Grupo Santista, empresa do Grupo Bunge. Hoje, atua como consultor de relações internacionais na Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e na ABIT – Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção; é membro do conselho da administração do grupo Mundial, fabricante de alicates e acessórios para unhas; e ainda atende alguns clientes selecionados em sua própria empresa, a Trade Action.

Revista do Parafuso (RP) – Como foi a sua trajetória até chegar ao atendimento de consultor?
Domingos Mosca (DM) – Durante os estudos dos cursos de Jornalismo e Economia, que cursava de manhã e a noite, trabalhei como repórter, mas logo após entrei para o setor de administração do Grupo Santista, divisão têxtil da empresa Bunge, onde comecei minha carreira. Lá produziam-se inúmeros produtos como suéteres e pulôveres, porém ganhou grande destaque na área de roupas de cama se tornando a primeira fábrica que trouxe lençóis confeccionados aqui no Brasil. Fui bem sucedido na minha função e passei a atender outros grupos, inclusive acompanhar a obra de uma fábrica têxtil no nordeste, onde morei por dois anos até o término da instalação. Quando voltei, passei a trabalhar com exportação, negociações internacionais e também com acordos multilaterais e bilaterais. Aposentei-me, então, com 30 anos de trabalho, mas não quis abandonar o mercado. Em 1992, integrei na liga nacional da ABIT atuando como agenciador e corretor de negócios de exportação e, quando o Paulo Skaf foi eleito presidente da Fiesp, me juntei a ele para implantar o departamento de defesa comercial na federação.


RP – Quais são suas funções? No que consiste este trabalho?
DM – O consultor orienta e assiste uma equipe de profissionais e analistas na relação entre as empresas e o mercado, pois há uma enormidade de setores industriais para atender. Entre eles temos empresas de balanças, óculos, bicicletas, escovas de cabelo etc. Todas elas têm que enfrentar a concorrência internacional, sobretudo com os produtos importados da China. É neste ramo de relações internacionais que atuo juntamente com a defesa comercial.


RP – O que você pode explicar sobre o quadro industrial/comercial hoje?
DM - No ano passado chegamos a um déficit que chegou a quase R$ 80 bilhões e em janeiro de 2012 já atingimos um déficit na balança comercial total. Em uma época em que a taxa de câmbio é muito valorizada, o Brasil acaba se tornando um país caro para o seu gênero. Logo, esta taxa elevada torna o produto importado competitivo e o produto brasileiro não competitivo no exterior, perdendo para exportar e para enfrentar no mercado interno o produto exportado. Todos esses fatores, de natureza macroeconômica, não estão nas mãos do empresário resolver. Ainda, na hora em que o produto sai da fábrica tem que enfrentar outro ponto macro que é a péssima estrutura de rodovias, portos e aeroportos. E todos esses são males internos. Agora, se somar a esta equação os males externos você terá um resultado maior ainda. Um exemplo é exatamente o comércio exportador chinês, cujos produtos como o parafuso são muito baratos, pois não têm custos trabalhistas para a sua produção. Já aqui, os nossos funcionários custam mais do que o dobro do pagamento só em encargos sociais como previdência, fundo de garantia etc. Por outro lado, as pessoas não têm a mesma retaguarda social que o funcionário brasileiro tem. Não queremos isso aqui no Brasil.


RP – Como funciona a defesa comercial para o setor de fixadores?
DM – Primeiramente, esta medida não deve ser vista como solução dos problemas das indústrias brasileiras e sim como auxiliadora. No caso dos parafusos, por exemplo, estava acontecendo algo muito grave que era vender o produto final por um preço muito menor do que a própria matéria-prima utilizada nele, ou seja, o quilo dos fixadores era mais barato que o material que estava contido para a sua fabricação. Uma das tarefas de defesa comercial que implantamos foi, juntamente com a Receita Federal, conseguir um detalhamento dos parafusos que estavam sendo importados, abrindo nomenclaturas para identificar os elementos utilizados, acabamentos, entre outros. Outra medida adotada foi a elaboração de uma estatística mensal que mostra a procedência do produto, o país de origem, a quantidade exata e o preço médio. Isso porque sem uma pesquisa atualizada não há como ter defesa comercial, pois não sabemos o que está acontecendo. Deste modo, com o monitoramento do mercado atualizado, estamos eliminando operações fraudulentas e a concorrência desleal dos importados.

 

RP – O setor pode esperar alguma novidade nesta área?
DM – Sim. Juntamente com o José Gianesi, do Sinpa – Sindicato das Indústrias de Parafusos, Porcas e Rebites no Estado de São Paulo – vamos abrir um processo antidumping contra essas importações para identificar as empresas que vendem suas mercadorias por um valor abaixo do que é cobrado dentro do país, visando prejudicar os concorrentes no local. Para se ter uma ideia, 85% das mercadorias que entram no Brasil não têm nenhum controle e somente 5% são consideradas como categoria vermelha, quando há o exame físico e documental por suspeita de fraudes. Pretendemos implantar alguém do sindicato para fazer uma vistoria junto à Receita Federal nas importações de fixadores e assim ajudar a diminuir as fraudes. A defesa comercial também é importante porque afeta outras associações de indústrias. Algumas não têm esse tipo de trabalho então nos procuram, mas a tendência é que cada uma possa ter.


RP – Qual a relação entre defesa e protecionismo?
DM – O protecionismo coloca barreiras artificiais ao comércio, que são consideradas ilegais, em benefício do país e detrimento dos importados. A defesa comercial é composta de várias medidas econômicas que visam proteger o país contra fraudes e operações que tendem prejudicar o mercado, como empresas que superfaturam e sonegam impostos. 


RP - Segundo uma matéria publicada em 2011 na revista Exame, num ranking de 10 países em número de medidas de proteção, a Argentina (165) está em primeiro, seguida por Rússia (133), EUA (101), China (92), Índia (100), Alemanha e Brasil (90 cada). O que você pode comentar a respeito?
DM – Provavelmente eles estão se referindo a casos que o Brasil reconhece que não está dentro das regras. Isso vale para o setor de vinhos, queijos e, de vez em quando, o automotivo. Se pegar este três produtos, creio que há fundamento para acusar o país de protecionismo. Mas essas medidas não acontecem de modo geral. 


RP – Onde estão os pontos graves nesta relação com a Argentina, já que se tornou líder dos países com mais medidas de proteção?
DM – O pior tema dessa questão é a imprevisibilidade. O governo argentino é completamente diferente do nosso. Está havendo um problema de desobediência de prazos para comprar, se organizar e produzir melhor. Por exemplo, houve um caso de ovos de páscoa que ficaram retidos na fronteira até depois da data festiva. Imagina o prejuízo para o importador e exportador dessa mercadoria. Eles acabam fazendo isso porque estão às vésperas de uma grave crise lá. Se não criarem um superávit comercial de cinco ou seis bilhões de dólares neste ano, vão sofrer um confl ito comercial muito grande. Logo, utilizam dessas medidas para evitar este acontecimento.


RP – Diante deste cenário, você abriria uma indústria no Brasil hoje?
DM – Eu pensaria muito bem antes. Esperaria o momento mais favorável, apesar de não existir tempos normais no mercado. Ou você está prosperando ou está decaindo, pois não existe câmbio fixo. Sei que se o País continuar com o déficit comercial, o fluxo de capitais entrando e saindo mudará e isso irá mexer com a cotação do dólar. Por causa disso há um grande investimento no Brasil, mas prefiro esperar uma melhor oportunidade.


RP – Algum setor que não vale a pena investir?
DM – No Brasil tudo é viável. Ainda mais porque estamos em um estágio intermediário para avançado de desenvolvimento. É um país que rende bons investimentos. Mas, no momento, ainda é preciso fazer grandes ajustes, principalmente na área de relações internacionais.

Domingos Mosca
domingos.mosca@fiesp.org.br


 


 

 


 

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