Marco Polo de Mello Lopes
O objetivo da siderurgia brasileira é prover, com eficácia, o abastecimento interno de produtos siderúrgicos e participar, de forma permanente, do comércio mundial do aço, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e o bem estar social. É sobre este assunto que o presidente executivo da Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, conversou com a Revista do Parafuso
Fundado em 31 de maio de 1963, o Instituto Aço Brasil – IABr (antigo Instituto Brasileiro de Siderurgia – IBS) tem como objetivo congregar e representar as empresas brasileiras produtoras de aço, defender seus interesses e promover o desenvolvimento. No cumprimento dessas atribuições, o Instituto realiza estudos e pesquisas relacionados à produção, equipamentos e tecnologia, matérias-primas e energia, tendências de mercado, novas aplicações do aço e relações industriais; coleta dados, prepara e divulga estatísticas; colabora na normalização de produtos; desenvolve programas e políticas definidos pelo setor; atua como representante setorial junto a órgãos e entidades públicas e privadas no País e no exterior; desempenha atividades de relações públicas e mantém contato com entidades afins no exterior. De acordo com o presidente executivo do Instituto, Marco Polo de Mello Lopes(á dir.), o objetivo é reforçar os atributos positivos da indústria do aço, como solidez, eficiência, responsabilidade sócio ambiental, resistência, modernidade, confiabilidade, além de esclarecer o que não é percebido corretamente. Segundo ele, o setor está preparado para vencer os desafios e aproveitar as oportunidades de crescimento, reforçando seu compromisso com o Brasil. O Instituto é uma entidade de classe, sem fins lucrativos, mantido pela indústria do aço do País. As empresas associadas operam usinas integradas e semi-integradas, ofertando uma ampla gama de produtos siderúrgicos que atende plenamente o mercado interno e sustenta uma forte posição exportadora, situando o setor entre os principais geradores de saldo comercial do Brasil. O IABr possui entre os associados 13 empresas privadas, controladas por oito grupos empresariais e operando 27 usinas distribuídas por dez estados brasileiros. São elas: Aços Villares, ArcelorMittal Aços Longos, ArcelorMittal Inox Brasil, ArcelorMittal Tubarão, Companhia Siderúrgica Nacional – CSN, Gerdau Açominas, Gerdau Aços Especiais, Gerdau Aços Longos, Usiminas, Siderúrgica Norte Brasil – Sinobras, V&M do Brasil, Villares Metals e Votorantim Siderurgia. Lopes respondeu as perguntas da Revista do Parafuso e nos passou maiores informações sobre este setor, que tanto mexe com o segmento dos elementos de fixação. Acompanhe a seguir:
Revista do Parafuso (RP): Quais as ações e eventos que o IABr organiza?
Marco Polo de Mello Lopes (MPML): O Congresso Brasileiro do Aço & ExpoAço é o principal evento realizado pelo IABr, e o mais importante da cadeia do aço. Além disso, organiza cursos para suas associadas e o Seminário sobre a Indústria do Aço para jornalistas, visando melhorar a formação do profissional de imprensa, com relação a esse mercado. O Instituto também apoia a realização de diversos eventos e cursos do setor, de forma institucional ou como patrocinador.
RP : De quanto é a produção de aço no Brasil? Quanto é exportado?
MPML: A produção brasileira de aço bruto em maio de 2010 foi de 2,9 milhões de toneladas, representando elevação de 5,5% em relação a abril, e aumento de 50,8%, quando comparada com o mesmo mês em 2009. Em relação aos laminados, a produção de maio, de 2,3 milhões de toneladas, representou alta de 5,2 % na comparação com o mês anterior e elevação de 42,4% quando comparada com maio do ano passado. Com esses resultados, a produção acumulada em 2010 totalizou 13,5 milhões de toneladas de aço bruto, e 10,8 milhões de toneladas de laminados, o que significou aumento de 56,9% e 64,5%, respectivamente, sobre o mesmo período de 2009.
RP : Qual é o volume e principais características do aço importado?
MPML: No que se refere às importações, registrou-se em maio, o volume de 494,5 mil toneladas (US$ 433 milhões) totalizando, desse modo, 2,3 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos importados no ano; 149,1% acima do mesmo período do ano anterior.
RP: Qual a atual realidade do aço no Brasil?
MPML: A indústria brasileira do aço está preparada para atender aos desafios do crescimento econômico. Nossa capacidade atual supera em 103% a demanda interna prevista para este ano, e possibilita ao setor manter elevada posição exportadora (ainda assim vamos continuar investindo). Os projetos de expansão previstos para o setor compreendem R$ 71,6 bilhões, que devem elevar a capacidade de produção de aço do País para cerca de 77 milhões de toneladas, em 2016. A retomada dos projetos de expansão demonstra a confiança da indústria do aço no crescimento sustentável do Brasil, e reafirma a disposição de continuar abastecendo plenamente o mercado interno e ampliar a participação nos mercados internacionais.
RP: Como você enxerga a concorrência do Brasil com os demais países do mundo?
MPML: As exportações de produtos siderúrgicos em maio de 2010 atingiram 654,8 mil toneladas, no valor de US$ 419,6 milhões. Com esse resultado, as exportações em 2010 totalizaram 3,5 milhões de toneladas e US$ 2,0 bilhões, e um aumento de 28,9% em volume e de 21,5 % em valor, quando comparado ao mesmo período do ano anterior. Dentre as preocupações do setor destacam-se a queda nas exportações e as crescentes importações de bens fabricados por alguns segmentos intensivos em aço. É um quadro que requer atenção e está associado às taxas de câmbio e, em parte, a assimetrias nas condições de concorrência com empresas internacionais.
RP: Devido aos altos preços do aço no Brasil, algumas empresas importam o produto. Qual o número dessa importação? E qual sua opinião sobre essa ação?
MPML: O Instituto Aço Brasil não discute preços pois a legislação antitruste do País não permite que uma entidade de classe tome para si a responsabilidade da coordenação e discussão desse tema. Cabe ressaltar, porém, que a importação sempre foi e será uma opção para os consumidores. Faz parte da economia de mercado desde que respeite as normas de qualidade e da isonomia competitiva.
RP: Qual a representatividade das empresas produtoras de elementos de fixação no Brasil que consomem o aço nacional?
MPML: Não temos esse nível de detalhamento para distribuição setorial de vendas de aço. Tradicionalmente, os setores automotivo, da construção civil e bens de capital são responsáveis por mais de 80% das vendas de aço.
RP: Alguns fabricantes de parafusos, por exemplo, se queixam, além dos preços da baixa qualidade, portanto, baixo rendimento. Fale a respeito.
MPML: A indústria produtora de aço atua junto a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas –, através do Comitê Brasileiro de Siderurgia CB-28, que visa normatizar matérias-primas e insumos siderúrgicos, tais como: carvão, coque, ferro-ligas, sucata e produtos para lingotamento de aço; e produtos siderúrgicos planos, longos e tubulares de aço, no que concerne à terminologia, requisitos e métodos de ensaio.
A normatização tem como objetivo atender às exigências e às necessidades do mercado; consolidar o desenvolvimento tecnológico; padronizar requisitos dos produtos; facilitar a comunicação entre o fabricante e o cliente; promover a fabricação de produtos com qualidade; reduzir custos; aumentar a produtividade e racionalizar a produção; permitir ao cliente/consumidor verificar a qualidade dos produtos; e facilitar a identificação da origem dos produtos. A listagem com as normas publicadas está disponível no site do CB-28 e também através da ABNT. A indústria brasileira do aço opera de acordo com os mais rígidos padrões de operação do mundo.
RP: Produzir aço com menos insumos e matérias-primas tem sido um dos assuntos trabalhados pelas empresas produtoras de aço no Brasil. Como isso é possível? E como essa tecnologia tem sido trabalhada?
MPML: As associadas têm reduzido de forma sistemática o consumo de recursos naturais não renováveis, por meio de maior eficiência no uso desses recursos e incremento da reciclagem de materiais gerados no processo. Atualmente, por exemplo, 94% da água usada no processo siderúrgico é recirculada. Além disso, o aço é 100% reciclável, o que significa que usinas brasileiras podem comprar o aço do consumidor final para mandar novamente para o forno e transformá-lo em aço. O setor, intensivo no consumo de energia por suas características de operação, busca continuamente alternativas tecnológicas de fontes de energia e de procedimento que propiciem a redução do consumo de energia e/ou eficiência.
RP: Como você enxerga o futuro deste segmento no Brasil?
MPML: O Instituto prevê para este ano, forte recuperação dos níveis de atividades da indústria do aço no País. O consumo deve crescer 24,4%, atingindo 23,1 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos, enquanto as exportações estão estimadas em 11 milhões de toneladas (+27,4%), possibilitando desse modo aumento de 25,1% na produção de aço bruto, para 33,2 milhões de toneladas. Os chamados programas especiais, como Minha Casa, Minha Vida, Petróleo e Gás, Copa do Mundo e Olimpíadas, estão sendo esperados pelas empresas e podem dar relevantes contribuições ao crescimento sustentado do nosso mercado nos próximos anos. Atualmente, a capacidade de produção é 103% superior à demanda interna, o que permite a esta indústria atender a totalidade do mercado interno e manter a forte posição exportadora que situa o setor, dentre os maiores geradores de saldo comercial do Brasil.
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