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Case: Guerreiras de aço
28/02/2008 02h39

As mulheres na indústria do parafuso

Não é de hoje que as mulheres lutam por um espaço maior e mais justo na sociedade e, claro, no mercado de trabalho. O início deste processo podemos afirmar que foi em 8 de março de 1857, quando operárias de uma fábrica de tecidos, situada em Nova Iorque, nos Estados Unidos, fizeram uma grande greve.

Elas ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. Reprimidas com violência, as manifestantes foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas.

Cento e cinqüenta anos depois, a mulher ainda briga por um tratamento igualitário. Segundo a mais recente pesquisa de remuneração divulgada pelo Ministério do Trabalho, com base em dados de 2006, as mulheres brasileiras ganham em média 16,8% a menos do que os homens. Essa diferença em 2000 era de 17,7%. Apesar das discrepâncias, começa a haver sinais de mudança. Em Amapá e no Distrito Federal, os dados apontaram para uma diferença mínima entre os salários - de 2,7% e 1,3%. Só que neste caso a favor das mulheres. Para os especialistas isto não é mais uma exceção, mas uma tendência, na qual ambos passarão a ter remunerações cada vez mais equiparadas.
Na contramão da desigualdade
No Brasil, já há empresas que apostam no trabalho feminino de uma forma efetiva, mesmo em ambientes ditos de exclusividade masculina. Um bom exemplo é da empresa Usistamp, situada na cidade de Cajamar, São Paulo, que há 28 anos atua na produção de parafusos voltados para o mercado de reposição e autopeças, nos segmentos automotivo, agrícola, industrial e especial.
Há dois anos, a empresa passa por um processo de reformulação do quadro de funcionários que trabalham na produção: a troca de homens por mulheres. A Usistamp acredita que as mulheres são perfeitamente capazes de manusear máquinas pesadas, como prensas, CNC e laminadoras. Hoje, dos 22 operários na área industrial da companhia, seis são mulheres. E a tendência é chegar ao final de 2008, com um corpo funcional predominante feminino.
“As mulheres são mais caprichosas, organizadas e responsáveis. Infelizmente, pelo menos nas experiências que tivemos aqui, os homens não pareceram muito preocupados com o seu desenvolvimento, talvez por haver certo comodismo, não sei”, afirma José Ricardo Biazola, presidente da Usistamp. “Em outras empresas, onde atuei, vi a evolução das mulheres e pude realmente perceber a diferença: elas são bem mais dedicadas. E isso, com certeza, traz maior produtividade”.
Uma mostra de que a troca esta rendendo bons frutos, é de que a empresa, que produz cerca de 60 a 70 toneladas ao mês de parafusos e similares, vem tendo um crescimento constante desde 2005. “Em 2007 aumentamos nosso faturamento em mais de 30% e nossa perspectiva para 2008, é no mínimo mais 20%. Além disso, exportamos atualmente de 25% a 30% de nossa produção”, diz Ricardo Biazola.
Ainda segundo o presidente da companhia, a escolha não se restringe apenas ao sexo, a idade também conta, porém de uma forma inversa ao que se vê no mercado. “Damos preferência para as mais experientes, ou seja, na casa dos 40 anos”. Segundo ele, a empresa oferece uma oportunidade para aquelas que desejam trabalhar; elas, em troca, retribuem com maior experiência, conhecimento e, conseqüentemente, segurança. O ingresso na fábrica e o manuseio das máquinas não são imediatos. “As operárias passam primeiro na expedição, onde conhecem o produto e vêem como ele é acabado, como deve ficar. Depois de 90 dias, aproximadamente, iniciam um rodízio pela fábrica, aprendendo a operar as máquinas”, afirma.
Para Ricardo, esta é a forma ideal de tirar um melhor aproveitamento da profissional, pois após percorrerem todas as máquinas, é possível ver onde serão mais eficazes. Mas nem tudo são flores, para José Ricardo Baziola o processo é lento. “Elas ainda possuem medo, dúvidas de sua capacidade em lidar com as máquinas. Em boa parte por também acharem ser um trabalho restrito a homens. Porém, quando são ensinadas por outras mulheres, essas barreiras começam a ruir e há um progresso. Tudo isso é na verdade um treinamento profissional e psicológico”.
A superação dos limites
A operária Mafalda Bonado, 45, está na Usistamp há dois anos e hoje é líder de expedição. “Para mim, foi uma grande novidade trabalhar com produção de parafusos. Confesso que no começo achei meio estranho, por sempre ouvir que era um trabalho masculino, mas agora já me acostumei”, disse. Segundo Mafalda, o treinamento foi importante, senão fundamental. “Já passei por quase todas as máquinas, inclusive a prensa, que é considerada uma das mais complicadas e difíceis de trabalhar, mas foi onde gostei mais de atuar”. Antes de entrar na companhia, a operária trabalhava como autônoma. “Eu montava cilindros de bicicletas para uma empresa, tudo isso na minha casa, agora como empregada é muito melhor. Sinto um crescimento, uma evolução”. A cordialidade é outro ponto a favor das mulheres, como disse o presidente da Usistamp. “Elas atendem e respondem às dúvidas e aos questionamentos do próprio trabalho de maneira bem diferente dos homens. Independente da escolaridade ou nível cultural, elas são mais gentis e têm mais flexibilidade”.
No caminho certo
Um estudo recente do Centro Internacional de Pobreza, uma instituição de pesquisa do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), em parceria com o Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), aponta que eliminar as barreiras para a mulher entrar no mercado de trabalho pode ser mais eficaz para reduzir a pobreza do que igualar salários de homens e mulheres. Os dados para se chegar a essa conclusão foram colhidos em El Salvador, México, Brasil, Argentina e Chile. A pesquisa diagnosticou que no Brasil e na Argentina, uma remuneração igualitária para ambos os sexos diminuiria em 10% a proporção de pobres, já com as oportunidades iguais de ingresso ao mercado de trabalho, a queda seria de 25%. No Chile, com salários iguais, a diminuição da pobreza seria de 1,1% e chances de trabalho semelhantes, 41%. Homens e mulheres lutando de forma igual no mercado de trabalho tende a estimular o crescimento econômico, segundo o estudo. No Brasil, a economia poderia crescer 6% e no Chile até 11%. Ou seja, uma sociedade com menor preconceito, é uma sociedade mais próspera.

 

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