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Entrevista
16/07/2021 03h30

Entrevista

J. Roberto Santiago, diretor da indústria de parafusos Ingepal

Uma das mais importantes empresas do setor de fixadores, na Ingepal a vida começa aos 60

Dra. Laura Melle Santiago (presidente) e José Roberto Santiago (diretor comercial) 

 A frase “back to the game”, que se traduz “de volta ao jogo”, se aplica muito bem na recentre trajetória da Ingepal, empresa fabricante de fixadores, que recentemente superou um processo de recuperação judicial iniciado em março de 2013. No recente dia 22 de abril o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, da cidade de São Paulo, oficializou o encerramento do processo de recuperação judicial envolvendo a empresa, o que a recoloca “de volta ao jogo”.

Fundada em 1960, a história da Indústrias Gerais de Parafusos Ingepal Ltda. tem sido marcada como uma das mais fortes fornecedoras dentro das cadeias de suprimentos para montadoras de caminhões e ônibus, máquinas e implementos rodoviários e agrícolas e tratores em geral.

Certificada ISO 9001: 2015 e IATF 16949: 2016, sua condição de Tier 1 nas montadoras hibernou nos últimos oito anos, embora tenha mantido um certo nível de fornecimento em sistemistas e na reposição. Por outro lado, a empresa passou esse período buscando outros mercados, tal como ferrovia-metrô, construção e, sobretudo, em parafusos, porcas e itens especiais para fabricação e manutenção de maquinário usado em mineração pesada, seu mais forte segmento atualmente.

Sua planta industrial situa-se em Franco da Rocha, cidade localizada na Região Metropolitana da capital paulista, a cerca de 200 metros da belíssima Represa Paulo de Paiva Castro (Juqueri), que compõem o Sistema Cantareira de abastecimento de águas da Grande SP. Ali, realizamos esta entrevista com o Santiago, nome de guerra do diretor comercial, num encontro que contou com a participação da presidente da Ingepal, Dra. Laura Melle Santiago, esposa do Santiago.

Laura é filha de Antônio Melle (1918 - 1994), que fundou a empresa em sociedade com Armando Magnani (1920 - 2007). Ambas as famílias se mantêm controladoras da empresa, que teve como gestores os respectivos filhos dos fundadores, Renato Magnani e Luiz Melle. Ambos foram desligados da direção em 2013, quando a doutora em Nutrição e administradora de empresas Laura Melle assumiu o comando. Determinada a salvar a empresa, aplicando nela recursos particulares que, segundo Laura, foram conquistados devido ao sucesso da empresa ao longo das cinco décadas anteriores ao início do duro período que se foi.

Boa leitura!

Revista do Parafuso: Como está a Ingepal hoje, traçando um paralelo com 2012-2013?

Santiago: Especificamente em 2012, quando os problemas agravaram, a Ingepal operava com cerca de 400 colaboradores, reduzido a 40 no pior momento. Hoje somos 72. Enquanto a capacidade produtiva, que chegou a 21 mil toneladas/ano, está hoje em 14 mil. Em tratamento térmico nossa capacidade passa de 14 mil toneladas/ano.

Último período saudável, em 2011 o faturamento orbitou em R$ 140 milhões.

Com um total de 30 mil metros quadrados de terreno, sendo 14 mil de área construída, nossa planta industrial se encontra em perfeitas condições devido aos cuidados durante “esses anos difíceis”, além de termos feito alguns investimentos, tal como em equipamentos de apoio às principais máquinas dos processos produtivos. Nisso se inclui o nosso laboratório, contendo Magnaflux, Magna Test, equipamentos para ensaios de tração, metalográfico, cisalhamento e determinador de torque-tensão (DTT). Nos mantemos altamente criteriosos. Antes de destinar a matéria prima para produção fazemos análise laboratorial, incluindo ultrassom para detectar possíveis desvios de processos, vazios, impurezas etc.

Ainda falando de 2012, nesse período entregávamos mensalmente nas montadoras automotivas, fabricantes de tratores e respectivos sistemistas, cerca de 1,1 milhão de quilogramas em itens de fixação. Muitos desses itens são de alta resistência como 10.9, 12.9, com dimensões entre M8 e M50 e comprimento de até 500 mm, com confi gurações geométricas específicas. A maioria delas são aplicados em motor, câmbio, direção, suspenção e chassi.

Vivendo a recuperação judicial, ficamos limitados a fornecer só reposição nas montadoras, fornecendo itens de rodas, da Iveco por exemplo, por meio de sistemista. Veja que até 2012 cerca de 90% dos fixadores dos caminhões VW eram Ingepal, de maneira direta - Tier 1, ou indireta.

Como está o mercado agora?

As demandas estão se elevando rapidamente, e é normal sentirmos um certo receio de voltar com tudo num mercado como o brasileiro. Por isso, temos nos limitado a fazer horas extras, antes de sair apressadamente assumindo novos compromissos, novos funcionários etc. 

Até 2011 as montadoras elevaram assustadoramente suas previsões, o que nos obrigou a nos preparar acumulando altos investimentos e altíssimos estoques para atender uma demanda que não se confirmou.

 

Votando a recuperação judicial.

Até 2011 as montadoras elevaram assustadoramente suas previsões, o que nos obrigou a nos preparar acumulando altos investimentos e altíssimos estoques para atender uma demanda que não se confirmou. Pior que não se confirmar, a demanda nem se manteve. Caiu. Acreditando numa rápida recuperação, com tudo parado, em 2012 a direção da Ingepal decidiu manter seus funcionários em férias coletivas, mas ainda havia caixa para pagar as demissões, ajustando a estrutura para aquele cenário. Após seis meses pagando o pessoal parado e quase sem receita, gastou-se as reservas. A recuperação do mercado não veio. Daí, com armazéns abarrotados com matéria prima específica e produtos acabados, sem dinheiro e sem faturamento, a recuperação judicial foi pedida em março de 2013 e aprovada em abril de 2014. Após uma auditoria interna, uma dívida estimada em R$32 milhões foi revista e chegou-se ao valor de R$ 16 milhões.

Sede da Ingepal em Franco da Rocha, SP 

Em algum momento vocês pensaram em desistir, e deixar fechar de vez?

Não! Após discordar das decisões dos gestores, saí em dezembro de 2012. Voltei ao final de 2014 sob a presidência da Laura, sobretudo por sempre acreditar que dava para reverter e voltar ao jogo. O mercado brasileiro tem massa crítica. Uma hora isso iria se normalizar. E nós com uma planta industrial moderna, intacta, estaríamos prontos. O problema é que em 2011 eu já sentia o risco de quebra da cadeia de fornecimento pela forma que as montadoras estavam estimando o mercado. Deu no que deu. Eu já tinha afirmado essa sensação durante evento no SAE 2011, na seção Caxias do Sul, RS. E isso está registrado nos arquivos da Revista Automotive Business.

Como nós tínhamos que operar três meses à frente da siderúrgica, comprando 1,1 mil toneladas, uma matéria prima específica na composição, no diâmetro etc. Assim, o que produzíamos naquele momento começava três meses antes. Ou seja, o aço que eu compro hoje é para ser recebido na fábrica e processado daqui a 3 meses.

Entre 2011 e 2012 as montadoras estimavam fazer 300 mil caminhões, cobrando que nós preparássemos nossa produção para tal. E isso acontecia em meio a mudança de motorização, do Euro 3 para Euro 5. Em agosto de 2012 o Governo Federal reduziu o financiamento de veículos de 100% para 70%, e os bancos privados que deveriam financiar a diferença reduziram a fluidez do dinheiro.

Fale do segmento que passaram a atuar?

Como as montadoras descredenciam quem está em recuperação judicial, passamos a desenvolver novos mercados, principalmente no segmento de tratores, mineração. Para o setor metro-ferroviário, por exemplo, desenvolvemos aqui a produção seriada de Tirefond com prensagem horizontal seriada a frio, fazendo 50 peças por minuto (ppm). Normalmente isso é feito a quente na velocidade de 5 ppm. Mas alguns produtos, como neste, o valor agregado é baixo para uma planta dedicada a produção de fixadores de aplicações críticas, de alta performance, de altos níveis em qualidade, rastreabilidade. Nessas condições não é fácil atuar nos mercados em geral, fora do automotivo.

Por favor, conclua Laura. Vida nova?

Todos os compromissos que assumi eu cumpri. Todos. Fizemos isso com uma equipe leal, fechada, determinada a chegar aonde chegamos. Isso é gratificante especialmente por ter feito isso com recursos próprios e muito trabalho. Foram tempos intensos, estressantes em negociações no fórum, para pagar homologações negociando com o sindicato e a CUT (Central Única dos Trabalhadores), dívidas e quase sem faturamento.

Mas em face de tudo aqui, dito pelo Santiago, a Ingepal voltou, pronta para fazer tudo, e retomar ao lugar que em que ela se fez grande. Estamos de volta ao jogo.

J. Roberto Santiago
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