Persona
Avalie corretamente o custo dos fixadores na condição “em uso”
Autor adverte sobre riscos em dar a compras o poder de decisões que envolvem segurança
Muitos projetos falham pela incorreta escolha baseada apenas na condição “preço unitário”, não considerando outros parâmetros de vital importância. A falha do elemento de fixação acarreta quase sempre danos irreparáveis não só onde é aplicado e deve cumprir função específica, mas chega a comprometer o produto final em sua totalidade. São muito conhecidos os exemplos, basta percorrer as listas de recalls. Não é raro que em função de pequenas quantidades a se aplicar, o poder de decisão da escolha do fixador se desloque do engenheiro de projetos ao comprador, deixando de lado o critério tecnológico e optando pelo critério preço unitário. Ou seja, desdenham-se especificações incontornáveis como: conformação a frio, tratamento térmico e superficial, uso de aço liga, rosca laminada, resistência mecânica e à fadiga, raios de concordância sob a cabeça, raios na raiz da rosca etc., negligenciados em função do aparente ganho ensejados por uma peça usinada de dimensões e aparência semelhante. Gravíssimo engano!
Diversos pesquisadores, incluindo o britânico Geoffrey Boothroyd (1925-2001) - renomado expert em arames de fogo, tratam do tema “Montagem” como a última fronteira onde são possíveis reduções significativas de custos de produção, e um dos critérios fundamentais de decisão é o chamado “custo do fixador em uso”, ou seja, o custo de todo o subsistema, já montado e nas condições funcionais otimizadas. A Engenharia e Análise de Valor (EAV) é importante nessa análise. Um parafuso de alta resistência, como de cabeça cilíndrica e sextavado interno 10.9 (DIN 912), chega a ter desempenho 1,5 vezes maior que um sextavado de igual dimensão, o que permite miniaturizar as contrapartes, reduzindo suas dimensões e seu peso. Fixador por fixador, o parafuso cabeça cilíndrica e sextavado interno tem preço unitário maior, mas o subsistema onde é aplicado tem custo expressivamente menor e oferece outras vantagens, como a miniaturização. São inúmeros os casos já relatados.
O critério tecnológico deve prevalecer sobre os aparentes ganhos. Como ensina o expert em fixação, nosso colega Rubens Cioto: “O parafuso é uma força. Qual é esta força? Como aplicar esta força? E como manter esta força em uso?”. Enfim, algo muito além do preço unitário. Atenção pois...
Alfredo Colenci Junior
Consultor e pioneiro na educação superior tecnológica, lecionou na Escola de Engenharia de São Carlos USP e no Centro de Educação Tecnológica Paula Souza, onde também foi vice-diretor superintendente, além de gerente de engenharia da Metalac S.A.