Prezado leitor,
Dificilmente encontraremos alguém que seja contra a existência da competitividade,até porque é uma palavra que sempre lembra liberdade, opção e benefício, principalmente para quem a lê com bons olhos. Por outro lado, quando estamos em plena competição e o adversário está levando vantagem pouco se considera o mérito do oponente, sendo conveniente culpar alguém, desde que não seja nenhum de nós. No Brasil, quase todos nós gostamos de futebol (eu, por exemplo sou apenas mais um louco por ele), sendo um bom exemplo da nossa alta competitividade. Nele, nós brasileiros, além de competitivos, somos intolerantes com falhas mínimas, cobramos e perseguimos treinadores, dirigentes, jogadores, massagistas, roupeiros etc. Em nosso time se o sujeito estiver mal nós protestamos até “eliminarmos impiedosamente os menos aptos” – como no processo seletivo descrito por Darwin.
Talvez seja por isso que sejamos os melhores do mundo. Em outros campos, como nas escolas, nos órgãos de saúde, delegacias, câmaras de vereadores e deputados, por exemplo, não temos esta mesma atitude “fria e impiedosa”. Por que se no futebol subimos no alambrado (ou na TV), atiramos sapato, chinelo e tudo de sólido e disponível que encontramos pela frente, fora os palavrões? Será que o meu (ou o seu) time é mais importante que a merenda escolar, contaminada pela “bactéria maracutaia”, só para citar um exemplo?
No próximo ano – pouco antes, durante ou depois da Copa do Mundo de Futebol –, pouca gente vai se lembrar da Finlândia, país que não participará desta e de outras copas, que não deve ganhar nem do seu time reserva ou mesmo no sorteio para escolha do lado do campo. Nos programas brasileiros sobre futebol os analistas falam de uma forma tão severa que nos dá a impressão que somos os piores do mundo. Segundo o articulista da revista Veja, Cláudio de Moura e Castro, que me inspirou neste editorial, a Finlândia tem atitude semelhante à nossa, porém, faz pesadas críticas e muita pressão contra o seu sistema educacional, levando-nos a pensar que nisso eles são os piores do mundo.
Resultado: eles têm os maiores índices de desenvolvimento humano (IDH) do mundo, 0,959 (2007) e 99% de alfabetizados, além de muitos prêmios em competições estudantis pelo mundo. Enquanto nós, os pentacampeões do futebol, temos alguns estados da federação comparados à África Subsaariana, com IDH de 0,700. Assim, com pouca formação educacional, continuaremos exportando ovos e importando omelete, porém, batendo um bolão.
Boa leitura
Sérgio Milatias
milatias@revistadoparafuso.com.br
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